Conversando com o Arthur ele revela:
-- Sabe... eu queria morar naquela parte escura do mar. Lá no fundo. Bem fundo! Aquela parte onde só tem peixe cego.
Graças à Vida | |
Graças à vida que me deu tanto | |
Me deu dois olhos que quando os abro | |
Distingo perfeitamente o preto do branco | |
E no alto céu, o seu fundo estrelado | |
E nas multidões, o homem que eu amo | |
Graças à vida que me deu tanto | |
Me deu o ouvido que em toda a sua largura | |
Grava noite e dia grilos e canários | |
Martelos, turbinas, latidos, aguaceiros | |
E a voz tão terna de meu bem amado | |
Graças à vida que me deu tanto | |
Me deu o som e o abecedário | |
Com ele, as palavras que penso e declaro | |
Mãe, amigo, irmão | |
E luz iluminando a rota da alma do que estou amando | |
Graças à vida que me deu tanto | |
Me deu a marcha de meus pés cansados | |
Com eles andei cidades e pântanos | |
Praias e desertos, montanhas e planícies | |
E a casa tua, tua rua e teu pátio | |
Graças à vida que me deu tanto | |
Me deu o coração que agita seu marco | |
Quando vejo o fruto do cérebro humano | |
Quando vejo o bom tão longe do mau | |
Quando vejo o fundo de seus olhos claros | |
Graças à vida que me deu tanto | |
Me deu o riso e me deu o pranto | |
Assim eu distingo alegria de tristeza | |
Os dois materiais que formam meu canto | |
E o canto de vocês que é o mesmo canto | |
E o canto de todos que é meu próprio canto |
Começaram as aulas de Edificações. Como é o primeiro módulo, ninguém se conhece ainda.
No terceiro dia de aula, adentrou a sala uma coordenadora com uma mulher que gesticulava bastante.
Até entendermos que os gestos eram LIBRAS demorou um pouco, porque ainda não tínhamos nos dado conta de que havia um deficiente auditivo entre a gente.
O surdo dispensou a intérprete. Disse que não seria necessário, pois ele sabia ler lábios. A mulher gesticuladora nunca mais apareceu.
Só que é seguinte, temos quatro professores:
O primeiro não fala muito bem. Tem problemas de dicção assumidos que dificultam a compreensão até de quem tem a audição perfeita.
O segundo fala sorrindo sem mexer os lábios. Mas pelo menos fala alto (fator que é inútil para o nosso colega deficiente).
O terceiro só apresenta a aula no DataShow e, para isso, apaga todas as luzes deixando a sala completamente escura, possibilitando apenas ver o slide e ouvir o som de sua voz (como ninguém consegue escrever, de tão escuro que fica, que dirá ler lábios).
Na última aula, de Desenho Técnico, sentei do lado do deficiente auditivo. Como a professora não tem problemas de dicção e dá as aulas com as luzes acesas, imaginei que seria bom para o meu colega ao lado.
Porém, lá na metade da aula, quando tava todo mundo concentrado nos seus desenhos, o colega me cutuca e pergunta:
- O que é pra fazer?
Nessa hora eu me dou conta de que a gente passa a aula inteira de cabeça baixa, olhando para o papel e seguindo as instruções faladas da professora. Ou seja, ou você lê os lábios dela ou você olha para o papel .
Enfim... foi ele quem dispensou a intérprete.