quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Rio

Sábado fui ao Rio de Janeiro, voltei hoje.

Fiz aniversário início desse mês, e assim como no ano passado (já que estou sem família, sem "nada") resolvi me dar de presente uma experiência.

É meu segundo aniversário aqui na nova cidade, e me dei conta de que não conhecia o mar. Que os lugares para onde costumo viajar ficam longe do mar.
Minha prima, de Roraima, foi fazer um show no Rio e essa era a desculpa perfeita para eu me mandar daqui por 4 dias.

Avisei no trabalho, na faculdade, no ateliê, em casa. Para todos que quisessem saber:
- Vou conhecer o mar!
A chefe falou:
- Isso será descontado do seu salário.
Eu nem liguei. Foi em Ipanema, com duas garota de Barretos -  que conheci no Rio - onde tive a minha experiência marítma.

Na verdade já tinha visto o mar. Em 1997, quando eu passava de carro por alguma rua da Venezuela caribenha, com meu pai. Nós paramos, fomos até a beira da praia e ele sugeriu que eu provasse da água, para atestar que era salgada mesmo.

Aprendi a nadar mesmo foi no rio. O rio dos fundos do quintal, em Roraima. O Rio Branco. Onde a correnteza segue sempre pro mesmo lado, a água não tem gosto de tempero e eu podia flutuar, seguindo retilínea pelo fluxo das águas, até onde tivesse coragem de ir.
O rio eu conheço.
Mas o Rio, não.

Mergulhei no mar, senti o seu sabor salgado. Ele me puxou, eu o enganei, depois ele me enganou. Me jogava de volta para a praia e eu voltava pra ele aos pulos.
Não pude flutuar estática como fazia nos rios e igarapés. O mar não me deixou sossegar. Me obrigava a interagir com ele, a encará-lo, a abraçá-lo, a falar com ele. Eu gargalhava!




O mar é mais extrovertido que o rio que, tímido, apenas me embalava enquanto eu me perdia divagando, quase levitando, na superficie.

Saí da água de Ipanema temperada e feliz. Caminhei na orla, catei conchinhas, e esqueci que tinha sal pelo meu corpo. Assei minha perna na caminhada. Foi mais uma lembrança do interativo mar, para que eu diga: "eu vou voltar".

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

ca$h

Lá tive que abandonar o curso de quadrinhos...
Para estar à noite numa escola pública, observando um professor de artes dar a sua aula.
Saí na hora do intervalo, andando só, pelas ruas, e pensando naquele ambiente escolar que eu não gostava, mas que seria um possível futuro profissional para mim.


Hoje recebi um email de uma colega da turma, perguntando se eu não sabia de algum emprego aqui pelo bairro. E eu penso que cada vez mais me deparo com colegas desesperados por trabalho.
Consegui um trabalho, durante a greve, que agora se torna um estorvo pois atrapalha minha rotina escolar. Hoje recebi meu primeiro salário.

Ao mesmo tempo penso que estou fazendo coisas demais e deixando o que me dá prazer em segundo plano, esse não era o combinado.
Dinheiro versus prazer mais uma vez. Deixei os quadrinhos e terei de deixar o RPG quinzenal por causa do trabalho. Logo agora que eu interpretava uma druida da natureza, que se perdia na cidade grande cheia de perigos e mercenários...
Divido o apartamento com mulheres já graduadas, com trabalho, mas que dedicam parte de sua renda para pagar uma tal de Edith. Uma psicóloga que, pelo visto é quase um oráculo para elas.
Eu nunca me dei bem com isso, de psicólogo. Mas preciso dos quadrinhos e do RPG, sinto muito.

O bom de escrever esse texto é que a cada palavra eu reflito e vou chegando a conclusão de que devo largar meu emprego. E dane-se! Eu tenho uma bolsa de iniciação à docência e quero fazer bonecos

PS: mentira, vou ficar mais um pouco...
PS': verdade! Eu não sou obrigada!
PS": Quem sabe?




segunda-feira, 3 de setembro de 2012

aula de quadrinhos

Hoje foi a primeira aula do curso de quadrinhos. Um curso de extensão da Escola de Belas Artes da Federal.
Poucos alunos e bastante conversa sobre esse universo. Interessante ter gente de várias áreas. Gente do curso de Música, de Moda, Teatro... e que por alguma razão lêem e agora querem fazer quadrinhos.
Por alguma razão.

Nos perguntaram sobre o que líamos, se já tínhamos algo em desenvolvimento, o que queríamos. E daqui a duas semanas até Dezembro, teremos algo apresentável ao público.

Estou empolgada!

domingo, 19 de agosto de 2012

Nightwalker

Ser notívaga já não tem mais graça.
Agora faço uma oficina de improvisação no sábado de manhã. Mas não consegui dormir cedo, como de costume. E com medo de não saber quando acordaria, passei a noite em claro... e o dia.

Depois ainda houve a mudança de casa, mudei de bairro, mudei de habitação mas não de hábito. Dormi "a las cinco de la tarde" e acordei meia noite. E cá estou, quatro e meia da manhã pensando.

Vou improvisar, então, um verso:




Minha boca pede um cigarro
Sou uma nova viciada
Durante a maré de quebranto
Pedia goles de água salgada
Eram lágrimas 
Apagando brasas
Eram tragos 
No balcão da casa
E de noite
Condessa Drácula
pensando agora
sem mácula
No cinzeiro
que estava o céu
na caladinha 
da noite
fumaça
com gosto de mel





terça-feira, 12 de junho de 2012

FIT&FITO


Nesse feriado dois festivais de teatro aconteciam ao mesmo tempo. O FIT, com espetáculos de rua e palco, e o FITO, com teatro de objetos.

Meu domingo começou às 11 da manhã, com uma peça argentina (Los hijos se han dormido) uma adaptação d’A Gaivota de Tcheckov.
Se algum desavisado passasse por ali, acharia estranho aquele espetáculo falado em espanhol da Argentina, com legendas projetadas acima do palco. Um cenário branco, uma sala de estar, um gordo que dorme... mas os benditos argentinos são muito bons em dar texto.
Quando olhei a plateia ao redor vi pessoas incomodadas. Estava maçante. Mas quando acabou, todos aplaudiram de pé.



***

Encontrei os amigos para almoçarmos e seguir viagem à próxima peça. Dessa vez um momento esperado. Romeu e Julieta é a peça mais famosa encenada pelo Galpão, que esse ano comemora 30 anos de existência. Chegamos duas horas antes do espetáculo, na praça, para conseguir um lugar bom. Quando começou, todos se aquietaram.
Se algum desavisado passasse por ali acharia estranho aquele texto rebuscado e rimado falado sobre penas de pau, e um calhambeque... mas é o Galpão, e é lindo. Não me canso de tietar esse povo.
Quando olhei a plateia ao redor percebo que nunca vi tanta gente para ver uma peça de teatro. Num Sol de torrar, na fome e na sede... mas era Romeu e Julieta do Galpão. Valia a pena.


 ***

E terminei o dia no FITO (festival de teatro de objetos), fui a única do grupo que ainda tinha ânimo, então fui só. Já era noite, consegui ver dois espetáculos e o último deles foi Correntes de Ar, da França. Um espetáculo adulto, monólogo, e muitas metáforas. Esse é o poder dos objetos: os símbolos que trazem. E eu acho fantástico. Esse festival me faz lembrar a Cia. Do Pé Torto, em Roraima pois um dia largamos tudo para ir ver o FITO em Manaus. Foi a primeira viagem que fizemos juntos e foi muito inspirador. Dois anos depois estava eu, vendo uma peça da França e lembrando de todos.
Se algum desavisado passasse por ali acharia muito estranho um senhor numa cama, brincando com miniaturas. Um ridículo. Mas havia uma trilha, uma iluminação e o "velho" era bom. Sua cama e seu dossel eram como uma gaiola, mas um mundo de possibilidades acontecia sobre os lençóis...
Quando olhei a plateia ao redor vi senhoras ao meu lado, em estado de hipnose, boca aberta ou sorrindo. Vendo o que o homem faria dali em diante com seus objetos. As crianças tentavam entender, mas eram os adultos que prendiam a respiração a cada novo movimento do ator, dava pra ver nos olhos deles o fascínio. Um velho e seus brinquedos era algo insólito, remetia a uma inocência infantil, mas... era um adulto (dizendo coisas de adultos). Um adulto como nós, que gostaríamos de ter um tempo para brincar de miniaturas
A peça não era cômica, mas os adultos riam com absurdo que acontecia no palco.
Aplaudi em pé. E até agradeci ao homem por aquele momento, esquecendo que ele não falava a minha língua.



terça-feira, 5 de junho de 2012

Momento "mamãe, faço teatro" e o 13º Cenas Curtas

Nesse último domingo, Alice e eu participamos do Festival de Cenas Curtas, em Belo Horizonte, com a cena "O Último Doce"
Um momento bem significativo que partiu de um desejo de Alice de contar a sua história que hoje se mescla com a minha.



Um processo cheio de insights, inspirações ou desencantos - como todo processo criativo - que está resultando numa cena sensível e autobiográfica de nós duas.
Aqui embaixo anexo a crítica feita por Luciana Romagnoli sobre a cenas apresentada no domingo:

"A [cena] mineira O Último Doce, vai confiar completamente na tensão entre a fala metaforizada de uma atriz e as imagens por ela suscitadas, que aos poucos ganham contornos nos desenhos feitos por outra no chão do palco. Com uma solução cênica extremamente simples, a dupla consegue dar materialidade a um tema metafísico, criando um espaço onírico que se remodela de acordo com os sentidos evocados na fala, e os potencializa. Os desenhos se tornam dramaturgicamente tão importantes quanto as palavras.

O texto escrito por Alice Vieira e Cora Rufino trata da experiência de se tornar adulto por uma dupla reconfiguração de mundo: a percepção de que, em relação à infância, o tempo diminui e o espaço aumenta. Ou seja: se, por um lado, já não há todo o tempo do mundo para a vida, por outro, o horizonte se amplia de modo que já não se pode determinar facilmente seus limites geográficos, e aquele território que antes circunscrevia toda a existência acaba por tornar-se pequeno demais para ela. “Como é que se mata o espaço?”, questiona-se Alice, em uma das centelhas que seu texto provoca.

É a nostalgia de um mundo ainda apreensível e imaculado – “Saudade de um tempo em que ninguém da minha família tinha morrido ainda”, diz também Alice, segurando um relógio-despertador, raro objeto de que a cena se serve. Além dele, apenas um peixe de madeira, a esponja e o líquido transparente com o qual Cora desenha o que se poderia chamar de cenário. A escolha do líquido é crucial: as marcas transparentes deixadas como traço/rastro remetem ao invisível e gradativamente se evaporam, efêmeras, como o tema de que se trata em cena.

A dinâmica entre falas e desenhos ressalta visualmente como o espaço vai se transformando com o passar do tempo e da experiência – e a cumplicidade entre o que é dito e o que se vê guarda momentos de humor também. As duas atrizes funcionam em codependência, como se uma representasse o tempo, e a outra, o espaço. O teatro que fazem é um jogo afetivo ao qual o público adere para ressignificar o mundo."


sábado, 26 de maio de 2012

Rainha do drama (a mulher abandonada)


Simplesmente quando acordei
Você não estava lá
Procurei na minha cozinha,
Varanda, sala de estar...

Levou embora suas coisas
Esvaziou o guarda-roupa
Havia levado os CDs,
Pacotes de Miojo e sopa

Então comecei a beber
Daí, comecei a fumar
Por causa de você que
Abandonou este lar

Veio, me fez de tudo
Partiu sem dizer nada
Eis aqui na sua frente
“A” mulher abandonada


Cora Rufino


***

Para Lorena Gomes, a revelação do violão.

sábado, 12 de maio de 2012

Silfo pra ti


Silfo-Deus: resolvi aparecer! Saudade? 
Fada Milly: na verdade não. Eu tava bem sem voc...
Silfo-Deus: Mentira! Rá!
Fada Milly: Eu tô vivendo uma fase boa.
Silfo-Deus: Uau! Que paisagem é essa?
Fada Milly: Diferente, né? É outra cidade!
Silfo-Deus: Nossa! Quando foi isso, que eu perdi?
Fada Milly: Por favor, Silfo, é sério... você poderia...
Silfo-Deus: Ir embora? Poxa, que ingrata!
Fada Milly: É que eu preciso me concentrar.
Silfo-Deus: As pessoas aqui mangam do seu sotaque?
Fada Milly: Por favor, Silfo!
Silfo-Deus: Ai, conta! (com brilho nos olhos)
Fada Milly: Hum... eles dizem que as vezes eu chio o “s”.
Silfo-Deus: Só? E o “pra ti” em vez de “p’ocê”? “De ti” ou “d’ocê”? “Contigo” ou “c’ocê”?
Fada Milly: Não faço mais isso.
Silfo-Deus:Mas pelo menos eu ainda estou em ti?
Fada Milly: N’ocê...


sábado, 10 de março de 2012

Moebius

Morreu hoje aos 73 anos o desenhista Moebius.

Quando eu era criança meu pai me mostrou duas HQ's desenhadas por esse artista.
Lembro do traço e das histórias da Garagem Hermética e Príncipe de Aliors.
Murilo colecionou Incal, de Moebius e Jodorowsky.


A ficção científica sempre foi uma paixão. Mas os universos de Moebius eram muito mais excitantes: Um futuro parecendo passado ou um passado futurista?
Steampunk?
O futuro do pretérito?

Não sei denominar, só observando mesmo.

Então deixo aqui um episódio de Arzak Rhapsody, dublado em espanhol.






Descanse em paz, Jean Giraud...

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Querido diário,


faz uma semana que estou em Brasília, a terra da arquitetura, da Dilma, da Kingdom Comics (onde comprei minhas últimas HQ's do Neil Gaiman e aquela camiseta da Mafalda)...
Já me explicaram 15 vezes como funciona o sistema das quadras e superquadras, mas ainda não entendi. Sempre desço do ônibus e caminho pro lado errado. Aliás, ser pedestre em Brasília é uma coisa muito desgastante, ainda mais quando chove. O lugar não tem calçadas e eu não tenho botas.


Mas o importante é que nessa semana consegui comer sushi (meu turismo pelas cidades se resume aos sushis que cada uma dispõe), beber vinho (as pessoas aqui bebem muito vinho, assim como em Minas bebem muita cerveja), conhecer pessoas interessantes e reencontrar amigos queridos, como o Francisco, que está fazendo mestrado da UnB. Comentávamos sobre a frieza da cidade, nos perdemos de madrugada e fui dormir na "colina", nome dado à moradia estudantil da Universidade.


Ah, querido diário, li um livro também: O caderno rosa de Lori Lamby, da Hilda Hilst. Li o livro enquanto esperava o boteco abrir para pegar o meu cartão de débito que esqueci por lá na noite anterior. Achei o livro genial, ele critica o sistema editorial, mas enfim... ainda não consegui o cartão, o bar não abriu.


E hoje, excepcionalmente, estou com essa frescura de "querido diário", talvez porque me senti inspirada pelo livro, ou porque me deu vontade de falar sobre a vida, ou porque estou sem nada pra fazer pois britadeira da obra do terraço me acordou.
Falando em livro, o Francisco escreveu um. Chama-se "Ruídos Noturnos ou pequenas putarias literárias", e na dedicatória que ele fez pra mim, onde diz "o teatro nos salva" as pessoas lêem "o teatro na selva", pois a letra dele é muito feia, ainda mais estando "bêbado e prostituto"(palavras dele). É até interessante essa confusão já que fazíamos teatro em Roraima, a selva.


Então, termino minha penúltima manhã no Planalto, postando um poema do novo livro de Francisco:

Odeio acreditar em utopias
prefiro desvendar
meu destino
escarrando sangue.
pra vê o desenho nas pias.

Francisco Alves


sábado, 21 de janeiro de 2012

Ceroto

Quando a lágrima escorre pro ouvido,
mistura com a cera.
Que nojeira!
E nessa eca
afogo o eco.

blub and tchibluf... 
(mergulhando na piscininha auricular)



Cora Rufino