terça-feira, 12 de junho de 2012

FIT&FITO


Nesse feriado dois festivais de teatro aconteciam ao mesmo tempo. O FIT, com espetáculos de rua e palco, e o FITO, com teatro de objetos.

Meu domingo começou às 11 da manhã, com uma peça argentina (Los hijos se han dormido) uma adaptação d’A Gaivota de Tcheckov.
Se algum desavisado passasse por ali, acharia estranho aquele espetáculo falado em espanhol da Argentina, com legendas projetadas acima do palco. Um cenário branco, uma sala de estar, um gordo que dorme... mas os benditos argentinos são muito bons em dar texto.
Quando olhei a plateia ao redor vi pessoas incomodadas. Estava maçante. Mas quando acabou, todos aplaudiram de pé.



***

Encontrei os amigos para almoçarmos e seguir viagem à próxima peça. Dessa vez um momento esperado. Romeu e Julieta é a peça mais famosa encenada pelo Galpão, que esse ano comemora 30 anos de existência. Chegamos duas horas antes do espetáculo, na praça, para conseguir um lugar bom. Quando começou, todos se aquietaram.
Se algum desavisado passasse por ali acharia estranho aquele texto rebuscado e rimado falado sobre penas de pau, e um calhambeque... mas é o Galpão, e é lindo. Não me canso de tietar esse povo.
Quando olhei a plateia ao redor percebo que nunca vi tanta gente para ver uma peça de teatro. Num Sol de torrar, na fome e na sede... mas era Romeu e Julieta do Galpão. Valia a pena.


 ***

E terminei o dia no FITO (festival de teatro de objetos), fui a única do grupo que ainda tinha ânimo, então fui só. Já era noite, consegui ver dois espetáculos e o último deles foi Correntes de Ar, da França. Um espetáculo adulto, monólogo, e muitas metáforas. Esse é o poder dos objetos: os símbolos que trazem. E eu acho fantástico. Esse festival me faz lembrar a Cia. Do Pé Torto, em Roraima pois um dia largamos tudo para ir ver o FITO em Manaus. Foi a primeira viagem que fizemos juntos e foi muito inspirador. Dois anos depois estava eu, vendo uma peça da França e lembrando de todos.
Se algum desavisado passasse por ali acharia muito estranho um senhor numa cama, brincando com miniaturas. Um ridículo. Mas havia uma trilha, uma iluminação e o "velho" era bom. Sua cama e seu dossel eram como uma gaiola, mas um mundo de possibilidades acontecia sobre os lençóis...
Quando olhei a plateia ao redor vi senhoras ao meu lado, em estado de hipnose, boca aberta ou sorrindo. Vendo o que o homem faria dali em diante com seus objetos. As crianças tentavam entender, mas eram os adultos que prendiam a respiração a cada novo movimento do ator, dava pra ver nos olhos deles o fascínio. Um velho e seus brinquedos era algo insólito, remetia a uma inocência infantil, mas... era um adulto (dizendo coisas de adultos). Um adulto como nós, que gostaríamos de ter um tempo para brincar de miniaturas
A peça não era cômica, mas os adultos riam com absurdo que acontecia no palco.
Aplaudi em pé. E até agradeci ao homem por aquele momento, esquecendo que ele não falava a minha língua.



terça-feira, 5 de junho de 2012

Momento "mamãe, faço teatro" e o 13º Cenas Curtas

Nesse último domingo, Alice e eu participamos do Festival de Cenas Curtas, em Belo Horizonte, com a cena "O Último Doce"
Um momento bem significativo que partiu de um desejo de Alice de contar a sua história que hoje se mescla com a minha.



Um processo cheio de insights, inspirações ou desencantos - como todo processo criativo - que está resultando numa cena sensível e autobiográfica de nós duas.
Aqui embaixo anexo a crítica feita por Luciana Romagnoli sobre a cenas apresentada no domingo:

"A [cena] mineira O Último Doce, vai confiar completamente na tensão entre a fala metaforizada de uma atriz e as imagens por ela suscitadas, que aos poucos ganham contornos nos desenhos feitos por outra no chão do palco. Com uma solução cênica extremamente simples, a dupla consegue dar materialidade a um tema metafísico, criando um espaço onírico que se remodela de acordo com os sentidos evocados na fala, e os potencializa. Os desenhos se tornam dramaturgicamente tão importantes quanto as palavras.

O texto escrito por Alice Vieira e Cora Rufino trata da experiência de se tornar adulto por uma dupla reconfiguração de mundo: a percepção de que, em relação à infância, o tempo diminui e o espaço aumenta. Ou seja: se, por um lado, já não há todo o tempo do mundo para a vida, por outro, o horizonte se amplia de modo que já não se pode determinar facilmente seus limites geográficos, e aquele território que antes circunscrevia toda a existência acaba por tornar-se pequeno demais para ela. “Como é que se mata o espaço?”, questiona-se Alice, em uma das centelhas que seu texto provoca.

É a nostalgia de um mundo ainda apreensível e imaculado – “Saudade de um tempo em que ninguém da minha família tinha morrido ainda”, diz também Alice, segurando um relógio-despertador, raro objeto de que a cena se serve. Além dele, apenas um peixe de madeira, a esponja e o líquido transparente com o qual Cora desenha o que se poderia chamar de cenário. A escolha do líquido é crucial: as marcas transparentes deixadas como traço/rastro remetem ao invisível e gradativamente se evaporam, efêmeras, como o tema de que se trata em cena.

A dinâmica entre falas e desenhos ressalta visualmente como o espaço vai se transformando com o passar do tempo e da experiência – e a cumplicidade entre o que é dito e o que se vê guarda momentos de humor também. As duas atrizes funcionam em codependência, como se uma representasse o tempo, e a outra, o espaço. O teatro que fazem é um jogo afetivo ao qual o público adere para ressignificar o mundo."