segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O final do ponto


Uma parede.
Um ponto
Um ponto numa parede. 


Perdido na imensidão do branco de cal
Um ponto normal. 

Um ponto que mexe
Um ponto que soa
Um ponto que olha
Um ponto que voa 

Um ponto que pousa no branco de cal
Mamãe veio e PAF! Matou o animal 

Era o ponto uma mosca
E essa poesia é "tosca"


Cora Rufino



(dos idos 2004)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Poemas para o fim do mundo


DESMUNDO

O Maia desmaia
A Cora descora 
E o Mundo desaba.


**

Performance "Executivos de Pedra", ideia de Marcelo Denny
Americano diz:

“O mundo vai acabar!
Começando no Japão
Eu aqui vou escapar
Num foguete pra Plutão”

Armagedom que se preze
Não respeita fuso horário
Então, meu amigo, reze
Fim não tem itinerário.


**


HAPPY HOUR
Saiu do trabalho na sexta
O jovem Mundo, até brabo
Falou pro colega Planeta:
- É hoje que eu me acabo!


**

Já chega de mimimi
Entre escombros e tijolos
No apocalipse zumbi
Eu devoro seus miolos

Rastejando atrás de gente
Uma grande gritaria
Comer carne ainda quente
Isso é sério, amor, não ria!




Cora Rufino

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Pesadelos

Acordei com as batidas na porta.
A família toda gritava de fora do quarto, pedindo que abríssemos. Batiam sem parar. Chutaram a porta. Era urgente.

Abrimos.

Nos deparamos com as pessoas estarrecidas, a mãe chorava. O que teria acontecido?


Eu tinha gritado, segundo consta, em sonho.
Depois me veio uma vaga lembrança: alguém em cima de mim. Me sufocava, creio, mas eu não me rendia. Lutava. Batia, socava e claro, gritava para alarmar.
Deu certo, mas de uma maneira estranha. Quando o socorro veio, tudo se dissipou em segundos. Não me restou nada além desse vulto pesado sobre mim. Abrimos a porta e todos preocupados perguntando o que tinha havido.
Houve que eu fui salva.

Já no mundo real, era quatro da manhã. Ninguém mais conseguiu dormir. Me aplicaram um Johrei, falaram sobre espiritualidade e energias ruins. Sobre ter visto algum filme de terror.
Sou ateísta, mas a situação era tão assustadora que nem me ofendi (tanto) quando se falou do sobrenatural.

Só que eu dormia acompanhada, a família não era a minha... e eu olhei para ele que também me olhava, sem entender e ao mesmo tempo estávamos desconfiados do que éramos ou do que fazíamos.
Ninguém lembra do que aconteceu. Eu disse que daria tudo para ver uma gravação daquela hora.
O que mais me assustou disso tudo, é a lembrança da mãe chorando, depois que abri a porta. O espanto das pessoas, o olhar deles. Ela chorava, eu me desculpava, sem saber direito por quê.

É algo tão além da minha compreensão, principalmente por ser inédito para mim.
Quando se fala em pesadelo tem apenas três lembranças:

Uma vez sonhei que corria de um morcego. Era dia, no quintal do meu pai. O ponto de vista, no sonho, era o do morcego. Eu via, através dos olhos dele, a aproximação. Ele pousou no meu ombro e eu acordei, com o pé da minha mãe onde estaria o morcego. Eu dormia com ela naquela noite e a realidade se misturou com o pesadelo: o pé real virou o morcego do sonho. Meu tato ajudou a colorir as sensações. Única experiência do tipo que tive até hoje;

Outra vez, sonhei com um dilema. Eu estava em um barranco, puxava a minha mãe para fora da água, para que não se afogasse. Porém, na minha outra mão, eu empurrava meu filho, um bebê, para cima do barranco, para deixá-lo a salvo, longe da água. Eu tava no meio. Com uma mão puxava minha mãe e com a outra empurrava meu filho. Mas eu escorregava, não conseguia empurrar meu filho e tão pouco puxar minha mãe. Tive que escolher quem eu deveria salvar, mas não conseguia decidir. O tempo ia acabando, eu ia escorregando e então acordei. Aos prantos. Primeira e única vez que acordei continuando uma ação iniciada em sonho;

A terceira e última lembraça de pesadelo, não chega a ser minha. É da época em que eu dormia com minha mãe. Às vezes ela gemia e gritava. Nada tão escandaloso como deve ter sido comigo essa noite, mas o sificiente para me incomodar. Não lembro se eu acordava ou se já estava acordada quando ela iniciava com os gemidos, mas eu sempre a acordava e ela me dizia com o que estava sonhando. Às vezes era alguém que a assaltava, ou alguém me matando.

Alguém me matando...

O que diabos aconteceu nessa noite em que eu acordei aos berros?
Ouviram socos na parede e na cama.
Analismos nossos corpos, nenhuma marca ou hematoma...
Então o quê..?

Minha garganta estava irritada por causa dos gritos. E o ponto positivo é que eu estava acordada de manhã cedinho e pude apreciar um café regional: tapioca com castanhas e pupunha cozida.