segunda-feira, 22 de agosto de 2016

veredas

Final do ano passado comecei uma tal duma terapia.
andei surtando.

Um surto de esquecimento, talvez.

Quando a gente esquece, por um instante, por que a gente enfrentou o que enfrentou para iniciar essa jornada a gente se perde no caminho e é uma "beleza".

Domingo da semana passada assisti a um espetáculo do Clowns de Shakespeare. Angustiada o tempo inteiro. Aquele povo é bom, né? Melhor grupo.
"Dá uma vontade de fazer isso daí" foi o que eu pensei em 2006 (acho que foi esse o ano) quando eles foram lá em Roraima pelo Palco Giratório. Assisti as peça tudo. Fiz as oficina tudo. Vi os bate-papo tudo e concluí "não seria nada mal fazer mesmo teatro, hein". Digo, teatro eu já fazia, mas ao ver os Clowns eu queria ser tão apaixonada como eles por isso daí.

Deixa eu ver isso daí. E fui me enveredando. E fazer teatro é como aprender idiomas, me parece. Você até pode se virar nas frases básicas... mas aí a gente descobre umas coisas diferentes, e vai se enveredando e se embrenhando... quando pensa que não vc já tá dialogando. Conversando complexidades. Entendendo complexidades. E aí vc descobre outros vieses que vc não tinha se atinado e vai se enveredando pra ver no que dá...

Quando vê já tá em Belo Horizonte, em 2016 se graduando em Teatro.

Como vim parar aqui? Foi a pergunta que fiz quando acordei um dia de madrugada, no Chile, em 2014. Eu estudava teatro, era lindo, eram outros vieses e tal... mas de onde vinha aquele medo?
Medo mesmo. Tanta informação junta que era difícil pôr em ordem.
Teatro era como aprender idiomas. Intercambio no Chile era como aprender outro teatro (que era em outro idioma).

E vc se dá conta que, para chegar tão longe (geograficamente falando) foi preciso desfazer laços. Laços esses que até certo ponto não estavam bem desatados e eu dei uns tropeções.
Voltei dez anos no tempo. Clowns de Shakespeare. 
Não, deixa o Clowns lá, eles não têm nada a ver com isso.
Eu tava no Chile. Sozinha.

E, gente... a caminhada do surto havia começado e eu nem tinha percebido.


Quando se trata de fugas, eu sempre fui muito boa. Trabalho em silêncio, junto uma grana, traço um destino e vou. Mas sempre que a gente foge pra outro lugar a gente não considera que aquele lugar já existia antes da gente chegar. E deve ser respeitado.
Não dá pra chegar com todas as suas malas e esperar que te ajudem a carregá-las.
No máximo você vai ter de abri-las, escolher o que você vai precisar e abandonar o resto. 
Mas também - e isso é algo interessante - Tem que deixar a mala meio vazia pra quando você voltar trazer coisas do mundo de lá.
Não, nem é metáfora isso. Tô falando de pisco, uma bebida chilena MA-RA-VI-LHO-SA!
E por favor, se vc for no Chile traz uma garrafa pra mim, eu pago.