sábado, 26 de maio de 2018

made in china


Pessoas entram o tempo inteiro
Tenho que ser certeiro

A cadeira que me deram é vagabunda
Já quase não sinto minha...

Meu olhar é um estilingue
Sou vigia numa loja xing-ling

Vejo a dona a xingar e não entendo
Só faço meu trabalho, recomendo

Não sabem do meu ofício
É difícil

Vigio o povo suspeito
Imponho respeito

Ah que tédio meu deus, mas é o emprego
O que a crise não faz com meu sossego

Deixa eu voltar à lida antes que esqueça
Pois passo o dia rimando na minha cabeça


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versinho feito pro zine sem título feito para o FIQ.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

matando

Estou aqui matando aula. Uma aula paga, inclusive. Cara, além de tudo.

Porque eu simplesmente precisava parar para pensar.

Comecei a decorar um texto. Sim, eu sei que "decorar" é uma palavra antiprodutiva quando falamos de teatro e o trabalho de ator. Mas nessa loucura da vida, eu me vi como essa tirinha da Akelatriz:


Onde eu tava no Uber abrindo o arquivo do texto a ser "decorado"- coisa que deveria ter feito semana passada - e me colocando aí duas horinhas disponíveis para memorizar as coisas.

Ao chegar em casa, com a respiração aos bafos e a cabeça a mil após uma reunião de produção teatral, percebi claramente que não teria condições de dar carinho e atenção às belas palavras do Samuel, o dramaturgo.

Era um paragrafinho, super simples se eu pegasse as duas horinhas e ficasse igual papagaio repetindo até automatizar. Mas a gente sabe que isso não se faz... precisava de alma.

Minha alma ainda não tinha chegado com essa correria da vida e eu temia que não chegasse a tempo da aula ou que, quando chegasse, fosse tarde demais e eu teria de zarpar em total desconcentração.

Uma coisa que me propus esse semestre foi ser franca comigo mesma. Em cascar fora, mesmo amando, de algo que não fosse me trazer alegria (porra, Marie Kondo). Não tão xiita dessa forma. E não tão egoísta, pois trabalhando em grupo eu não posso simplesmente cascar fora... então busco amar as pessoas com quem trabalho ou trabalhar com quem amo.
Citei aqui num post anterior que amar é fácil, não falo de forma romântica e sim pragmática: amo sim.

Enfim, o adendo sobre que nunca me foi questionado faço questão de explicitar. Porque sim.

Samuel merece atenção.
As atividades, benzadeus, serão amadas.
me sinto bem
matando aula


segunda-feira, 7 de maio de 2018

A INVISIBILIDADE DA MULHER ATEIA

Vim aqui fazer textão sobre
A INVISIBILIDADE DA MULHER ATEIA
Era uma vez uma mulher atéia. Quando ela nasceu os astros se alinharam e disseram: "mina chata, mexe com ela não". Se desalinharam e cada um foi arrumar o que fazer.
Um dia deus disse pra ela: "Filha, vc precisa ter um signo que te guie e te ilumine."
Ela comprou uma bússola e um abajur na Imaginarium.
Odin ficou furioso! Enviou a Morte, em forma de gótica, para seduzi-la e enfeitiçá-la. E numa boate qualquer, ao som de Michel Teló, a Morte cobriu a mulher com um manto bem na hora do "assim vc me mata".
Antes de partir a Morte falou: "não vou te matar, vou deixar vc viver, porém, esse manto te deixará invisível. Já que vc rejeita a existência de deuses, a humanidade rejeitará a sua existência também. Só mais uma coisa: cuidado pra não deixar nenhum molho cair no manto porque é da minha vó. Relíquia de família, sabe?"
A mulher vagou pelo mundo coberta por aquela Relíquia da Morte. Quando chegou no fim de uma ruazinha estranha, meio que um beco diagonal, a mulher ateia avistou uma sauna.
Nunca deixavam mulheres entrarem naquele tipo de sauna.
Ela entrou lá invisível e ninguém sabe, até hoje, se ela saiu de lá.
Só se sabe que ela é libriana e isso explica muita coisa.
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E no próximo capítulo vou problematizar O TÉDIO DA MULHER ZUEIRA.
(texto publicado no facebook em maio de 2016, durante um vácuo numa turnê)

terça-feira, 1 de maio de 2018

Me despedi

Me despedi
Das dúvidas que nunca me tiraste
Da ausência do olhar e da palavra
Da incerteza nos teus atos e presentes
Me despedi

Dói pensar que parto agora
Como sempre ando sendo, a partente
E rascunho calmamente neste bloco
A decisão de não ser indiferente

Me despeço, então assim, das contrassenhas
Nem o hacker do Silício codifica
Se és feliz, ao meu ver, na traquinagem
Me desculpes, entendi que era dica
Eu no alto de minha vocação gaiata
Não logrei fazer parte desse jogo tiririca

Me despedi
Então
Com um pesar
Porque não sabes ou finges não saber
Que palavras e os atos têm um peso
Bacharéis em teatro podem ver
Mas mesmo que não haja um diploma
A análise dos fatos
É um drama de morrer

Me despedi, sabendo ser mentira
Que não levo na bagagem nada mais
Mas despeço o que um dia eu pedi
E te devolvo o que só me tirou paz

Me despedi.
Com dor
Me despedi