Dia desses fiz vinte e cinco anos.
Depois de rodar por vários cursos universitários, de viajar
de tão longe em busca de uma formação artística. Cá estou.
Penso sempre em Roraima. Tudo o que eu estudo eu penso no
meu grupo, tudo o que ganho penso em como usar isso no meu retorno...
Roberto Ramos que me disse: “não faça planos. Deixa a vida
seguir”.
Mas como cumprir isso? Tudo nesse curso me remete às minhas
origens.
Daí fiz o tal do quarto de século, e ontem choveu aqui na
cidade. Torrencialmente. Eu estava esperando a aula começar e acabou a energia
do prédio, então todo mundo foi para fora, onde ainda tinha claridade, mesmo
que nublada. Eu olhava para a grama onde nos sentávamos nos dias de Sol, quando
Ítalo falou:
- Gosto de tomar banho de chuva.
Olhei para ele e imaginei a cena. Estava tão frio e chovia
tão forte...
- Vamos, então? – perguntei a ele meio incrédula
- Vamos – respondeu
Caminhamos pela graminha, e nos sentamos naquele tronco
deitado. Igual Rosinha e Chico Bento. A chuva era forte e comecei a me incomodar com minha roupa
molhada, talvez por isso eu tenha voltado correndo. Ele veio atrás.
Rogério falou para nós dois:
- Vamos?
E nós três fomos.
Um banho bobo de chuva, a princípio. Chegamos ao tronco e eu pensei “vai
sujar minha roupa”. Para os homens é mais fácil, é só tirar a camisa.
De repente a Tainá pula de cima do muro. Cai como um gato,
de quatro na poça. Nos assustamos. Foi o tempo para ela pegar um bolo de lama
com as mão e jogar em todos nós. Saímos correndo num pega-pega entre árvores.
Escorreguei, me deixei pegar pela mulher, virei a “manja”, saí correndo atrás
deles e em cima do muro surgiu um rapaz, tocando flauta.
“É um sonho?” Pensei.
O flautista pulou do muro, estávamos cantando e dançando
como se fôssemos elfos. Apareceu outra menina, ela abraçava as árvores, alguém
mais pulou do muro com uma panela gigante de metal. Batucava a panela, o
flautista continuava, e logo surgiram outros “instrumentistas” pelo muro. Com
arames, pedras e madeiras, formamos uma orquestra.
Entoávamos nossas cantigas, fazíamos harmonias e a chuva ia
enfraquecendo.
Pintaram meu rosto com lama preta, parecia que eu estava
pronta para a guerra.
Lembrei de um trecho de uma música do Infected Mushroom que
diz assim:
“I’m waiting for the
rain, to wash who I am” (Tô esperando pela chuva, para lavar quem eu sou).
A música se chama I wish (eu desejo).
Falando em Infected Mushroom, sábado tem show deles aqui. E
é claro que eu vou.
Porque I wish...
...e tô pronta pra guerra...
4 comentários:
...Nem que seja a de lama.
Foi lindo só de ver!
''and I try... and I try... and I try... but I can't live more.... posso também fazer parte da orquestra?... onde e como faço para me inscrever?''
Abraço Corita ;)
Puxa Cora!
E nao me ocorre mais nada pra dizer.
Fora uma invejinha branca.
I wish eu estivesse there. :)
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