Nesse feriado dois festivais de teatro aconteciam ao mesmo
tempo. O FIT, com espetáculos de rua e palco, e o FITO, com teatro de objetos.
Meu domingo começou às 11 da manhã, com uma peça argentina
(Los hijos se han dormido) uma adaptação d’A Gaivota de Tcheckov.
Se algum desavisado
passasse por ali, acharia estranho aquele espetáculo falado em espanhol da
Argentina, com legendas projetadas acima do palco. Um cenário branco, uma sala
de estar, um gordo que dorme... mas os benditos argentinos são muito bons em
dar texto.
Quando olhei a
plateia ao redor vi pessoas incomodadas. Estava maçante. Mas quando acabou,
todos aplaudiram de pé.
Encontrei os amigos para almoçarmos e seguir viagem à
próxima peça. Dessa vez um momento esperado. Romeu e Julieta é a peça mais
famosa encenada pelo Galpão, que esse ano comemora 30 anos de existência.
Chegamos duas horas antes do espetáculo, na praça, para conseguir um lugar bom. Quando começou, todos se aquietaram.
Se algum desavisado
passasse por ali acharia estranho aquele texto rebuscado e rimado falado
sobre penas de pau, e um calhambeque... mas é o Galpão, e é lindo. Não me canso
de tietar esse povo.
Quando olhei a
plateia ao redor percebo que nunca vi tanta gente para ver uma peça de
teatro. Num Sol de torrar, na fome e na sede... mas era Romeu e Julieta do Galpão. Valia
a pena.
E terminei o dia no FITO (festival de teatro de objetos),
fui a única do grupo que ainda tinha ânimo, então fui só. Já era noite,
consegui ver dois espetáculos e o último deles foi Correntes de Ar, da França.
Um espetáculo adulto, monólogo, e muitas metáforas. Esse é o poder dos objetos:
os símbolos que trazem. E eu acho fantástico. Esse festival me faz lembrar a
Cia. Do Pé Torto, em Roraima pois um dia largamos tudo para ir ver o FITO em
Manaus. Foi a primeira viagem que fizemos juntos e foi muito inspirador. Dois
anos depois estava eu, vendo uma peça da França e lembrando de todos.
Se algum desavisado
passasse por ali acharia muito estranho um senhor numa cama, brincando com
miniaturas. Um ridículo. Mas havia uma trilha, uma iluminação e o "velho" era
bom. Sua cama e seu dossel eram como uma gaiola, mas um mundo de possibilidades
acontecia sobre os lençóis...
Quando olhei a
plateia ao redor vi senhoras ao meu lado, em estado de hipnose, boca aberta
ou sorrindo. Vendo o que o homem faria dali em diante com seus objetos. As
crianças tentavam entender, mas eram os adultos que prendiam a respiração a
cada novo movimento do ator, dava pra ver nos olhos deles o fascínio. Um velho
e seus brinquedos era algo insólito, remetia a uma inocência infantil, mas...
era um adulto (dizendo coisas de adultos). Um adulto como nós, que gostaríamos de ter um tempo para brincar de
miniaturas
A peça não era cômica, mas os adultos riam com absurdo que
acontecia no palco.
Aplaudi em pé. E até agradeci ao homem por aquele momento,
esquecendo que ele não falava a minha língua.
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