terça-feira, 29 de setembro de 2020

Espocoeur

Meu coração espocou. 
Eu tava parada na esquina, esperando o sinal abrir. 
Mas meu coração não esperou. 
Achou que ninguém ia vindo 
e atravessou. Correndo. 
Porém chovia 
e todos sabemos que na chuva 
as faixas de pedestres são como piso de sabão. 
E ploft! 
Lá se foi o coração.

Cora Rufino

terça-feira, 26 de maio de 2020

Fado Covid

Estava a caminhar
Pelas ruas de Lisboa
Bebendo meu bom vinho 
e chorava à toa

Mandaram-me pra casa
Estás de quarentena
Chegou corona vírus
Matando meu poema

Covid
Covid-19

Estava a ver o mar
Admirando uma gaivota
Tomando meu bom vinho
Rindo feito uma idiota

Mandaram-me pra casa
Estás de quarentena
Chegou corona vírus
Matando meu poema

Covid
Covid-19

Estava pela rua
Correndo da polícia
Bebendo meu bom vinho
Que estava uma delícia

Mandaram-me pra casa
Estás de quarentena
Chegou corona vírus
E nada vale a pena

Covid
Covid-19



Cora Rufino (Abril/Maio 2020)



quinta-feira, 5 de julho de 2018

Plexo


Eu toquei em seu Plexo Solar
Sem saber onde ele fica
Mas essa coisa de Plexo Solar
Não me deu nenhuma dica...

Quantas milhas vou ter que percorrer
Para encontrar o seu interior
Esse tesouro é complexo de achar
Não sei dizer se é amor

Mas eu toquei o seu plexo solar
Sem saber onde ele fica
E essa coisa de plexo solar
Não sei o que significa



Cora Rufino

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Acróstico

E de repente, procurando nos arquivos de computador algum poema inédito, me deparo com um chamado "acróstico". Abri curiosa e me deparei com isso:



Entre. Eu abro a porta.
Li que os vampiros são assim:
Invitados adentram minha casa e
Meu pescoço com seu marfim.
Aliás, só com metáforas
Consigo poder brincar.
Um cálice de vinho tinto, uma
Xícara de chá?
Infusões ou puro álcool, estou pra lá de Bagdá!

sábado, 26 de maio de 2018

made in china


Pessoas entram o tempo inteiro
Tenho que ser certeiro

A cadeira que me deram é vagabunda
Já quase não sinto minha...

Meu olhar é um estilingue
Sou vigia numa loja xing-ling

Vejo a dona a xingar e não entendo
Só faço meu trabalho, recomendo

Não sabem do meu ofício
É difícil

Vigio o povo suspeito
Imponho respeito

Ah que tédio meu deus, mas é o emprego
O que a crise não faz com meu sossego

Deixa eu voltar à lida antes que esqueça
Pois passo o dia rimando na minha cabeça


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versinho feito pro zine sem título feito para o FIQ.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

matando

Estou aqui matando aula. Uma aula paga, inclusive. Cara, além de tudo.

Porque eu simplesmente precisava parar para pensar.

Comecei a decorar um texto. Sim, eu sei que "decorar" é uma palavra antiprodutiva quando falamos de teatro e o trabalho de ator. Mas nessa loucura da vida, eu me vi como essa tirinha da Akelatriz:


Onde eu tava no Uber abrindo o arquivo do texto a ser "decorado"- coisa que deveria ter feito semana passada - e me colocando aí duas horinhas disponíveis para memorizar as coisas.

Ao chegar em casa, com a respiração aos bafos e a cabeça a mil após uma reunião de produção teatral, percebi claramente que não teria condições de dar carinho e atenção às belas palavras do Samuel, o dramaturgo.

Era um paragrafinho, super simples se eu pegasse as duas horinhas e ficasse igual papagaio repetindo até automatizar. Mas a gente sabe que isso não se faz... precisava de alma.

Minha alma ainda não tinha chegado com essa correria da vida e eu temia que não chegasse a tempo da aula ou que, quando chegasse, fosse tarde demais e eu teria de zarpar em total desconcentração.

Uma coisa que me propus esse semestre foi ser franca comigo mesma. Em cascar fora, mesmo amando, de algo que não fosse me trazer alegria (porra, Marie Kondo). Não tão xiita dessa forma. E não tão egoísta, pois trabalhando em grupo eu não posso simplesmente cascar fora... então busco amar as pessoas com quem trabalho ou trabalhar com quem amo.
Citei aqui num post anterior que amar é fácil, não falo de forma romântica e sim pragmática: amo sim.

Enfim, o adendo sobre que nunca me foi questionado faço questão de explicitar. Porque sim.

Samuel merece atenção.
As atividades, benzadeus, serão amadas.
me sinto bem
matando aula


segunda-feira, 7 de maio de 2018

A INVISIBILIDADE DA MULHER ATEIA

Vim aqui fazer textão sobre
A INVISIBILIDADE DA MULHER ATEIA
Era uma vez uma mulher atéia. Quando ela nasceu os astros se alinharam e disseram: "mina chata, mexe com ela não". Se desalinharam e cada um foi arrumar o que fazer.
Um dia deus disse pra ela: "Filha, vc precisa ter um signo que te guie e te ilumine."
Ela comprou uma bússola e um abajur na Imaginarium.
Odin ficou furioso! Enviou a Morte, em forma de gótica, para seduzi-la e enfeitiçá-la. E numa boate qualquer, ao som de Michel Teló, a Morte cobriu a mulher com um manto bem na hora do "assim vc me mata".
Antes de partir a Morte falou: "não vou te matar, vou deixar vc viver, porém, esse manto te deixará invisível. Já que vc rejeita a existência de deuses, a humanidade rejeitará a sua existência também. Só mais uma coisa: cuidado pra não deixar nenhum molho cair no manto porque é da minha vó. Relíquia de família, sabe?"
A mulher vagou pelo mundo coberta por aquela Relíquia da Morte. Quando chegou no fim de uma ruazinha estranha, meio que um beco diagonal, a mulher ateia avistou uma sauna.
Nunca deixavam mulheres entrarem naquele tipo de sauna.
Ela entrou lá invisível e ninguém sabe, até hoje, se ela saiu de lá.
Só se sabe que ela é libriana e isso explica muita coisa.
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E no próximo capítulo vou problematizar O TÉDIO DA MULHER ZUEIRA.
(texto publicado no facebook em maio de 2016, durante um vácuo numa turnê)