quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Fiquei muito feliz ao ver o comentário de Eli Macuxi a respeito do meu poema "Exibicionismo", do post anterior.
Outro ponto de vista da mesma história criminal:

Ele&Ela

o olhar masculino
aproveitava o que se dava à vista.
menos banal
ela focava com intenção fatal.

ele mirava na teta - ela no peito.
pouco mais aconteceu nessa treta
que pra ela não acabou no leito:
um tiro e um velho perneta!
bem feito!

Eli Macuxi

terça-feira, 13 de julho de 2010

Exibicionismo

A escrevi há uns cinco anos e nunca soube o que fazer com ela, ainda era a época das poesias de humor-negro.

Daí surgiu o CONPOESI (Concurso de Poesia do SESI). E só pra ver no que dava, inscrevi a poesia da exibicionista macabra. De puro mal gosto? Sei não, mas pelo menos não era mais uma sobre amor.

Talvez tenha sido por isso que ela foi classificada para ser interpretada.
E lá fui eu, fortemente armada e com um vestido preto enquanto a Lorena tocava violão ao fundo.
Declamei, ganhei o segundo lugar.

Ei-la então, não posso dizer que é inédita aqui mas... né? E agora se chama


Exibicionismo

Cheguei mais perto
Para ver de longe
Se algo acontece

Na rua parece
Que tudo se esconde
Pois já anoitece

Eu cheguei... mais perto
Para ficar distante
E poder procurar.

Fico à espera
Que alguém se espante
Em algum lugar

Me aproximei da janela
Para ver de longe a rua
Meu vizinho banguela  
Me observava nua!

Abri a gaveta
Peguei uma arma
"Olhando minha teta
Ele nem se alarma..."

Com o olhar atento
Apontei o três-oitão
"Naquele tarado nojento
Vou acertar o coração"

Com o disparo que eu dera
Vi que quase o matei
Tudo o que eu pensava era
"Porra, eu quase acertei!"

Depois de assoprar o cano
Guardei o ferro na gaveta
O meu vizinho Fulano
Agora virou perneta

E ao som da doce lira
Penso insatisfeita:
"Pois amanhã a mira
Há de ser perfeita!" 

Cora Rufino 

 Detalhes: FolhaWeb


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Senhor das Armas paraguaio.

- Alô? Oi, eu queria saber se você tem alguma arma de brinquedo. É que eu vou interpretar uma poesia e ela fala de armas...
- Se eu tenho arma de brinquedo? Eu tenho um arsenal! 
- Tá bom, Senhor das Armas! Quando é que eu posso pegar?
...
- Aqui atrás! Aqui atrás!
- É aí que tu guarda?
- Tenho pistola semi-automática, rifle, metralhadora...
- Eu queria só um revólver...
- Só um revólver? Sente só o peso dessa pistola... viu? 
- Mas só quero um revólver.
- E ainda vem com cartucheira.
- É? Mas eu só quero...
- Tem essa outra que tem espoleta!
- Puxa!
- E esses revólveres aqui...
- Eu vou levar essa da espoleta e da cartucheira e esses revólveres!
- E tem também o rifle...
- Vou levar! Tem coldre?
- Tem! E esse cinto de utilidades, e...
...
- Beleza, como é que eu vou carregar essas armas todas? Vão me prender antes de atravessar a calçada!
- A espingarda não cabe na sua bolsa?
- Hum...
- Enrola nesse pôster do Independence Day, nem gosto mesmo...

***

- Alô?
- Arf... Arf... Alô!
- Tá ocupado?
- Um pouco.
- É que...
- Quebrou?
- Como você sabe? Eu só fui engatilhar! Daí a pistola bandou. 
- Normal! Normal!
- Mas eu vou pagar!
- Não. Tá bom. Acontece. Tchau
- Mas eu...
- Normal. Normal.
(clic)


domingo, 20 de junho de 2010

Momento Lembrança – Cenas Oblíquas


Eu e os curumins da rua gostávamos de dar cotoco uns para os outros.
Uma das mães, vendo essa arrumação, foi se queixar para a irmãzinha de um dos pirralhos:
- Diga para a sua mãe, que o Deco está fazendo gestos obscenos para o meu filho.
Quando a mãe da menina chegou, ela correu:
- Mãe, a vizinha disse que o Deco está fazendo cenas oblíquas!



Criança é um bicho escroto.
Já conhecíamos a palavra “oblíqua”, mas não sabíamos o que era. Da mesma forma já conhecíamos a obscenidade, mas não sabíamos a palavra.

Quando somos criança, essa coisa de enriquecer o vocabulário vai muito da dedução.
A não ser que a tenhamos uma pessoa adulta por perto para perguntar:
- Mãe, o que é prostituta?

 ***

A primeira lembrança que eu tenho de metáfora é do dia em que eu estava assistindo a uma novela. A mocinha deitava-se no colo da mãe e desatava a chorar:
- Tira ele da minha cabeça, mãe! Tira ele da minha cabeça!
E eu imaginava quem poderia estar dentro daquele crânio miúdo...

As cenas que se formavam na minha imaginação eram todas completamente oblíquas.

domingo, 25 de abril de 2010

Bertinha

Bertinha! Bertinha! Bertinha!
O que foi que aconteceu?
Ave Maria, Bertinha
Mil Fragmentos seus

Saia de cima do muro!
O que você quer aí?
Oito olhos aboticados
Vão fazer você cair

Todos são meio idiotas
Pai, mãe e os irmãos
Corre pra longe, Bertinha
Só você tem salvação

Bertinha! Bertinha! Bertinha!
O que foi que aconteceu?
Vixe Maria, menina
Mil pedacinhos seus

Cora Rufino
21/04/10

***
Inspirado no conto A galinha degolada, do uruguaio Horacio Quiroga.
Pensando ainda se uso Bertinha ou Bertita.

Transformamos o poema num acalanto e o cantamos na nossa peça "Oito Olhos"

terça-feira, 6 de abril de 2010

O oposto do dia


A luz que me traz a idéia
Não é a mesma que lhe alumia
Eu penso melhor à noite
Você raciocina de dia

Não ordene que eu vá dormir
Pois não vou obedecer

Se você me pedir para subir
Logo, logo vou descer

Porque é à noite que eu acordo
Acendo as luzes, mas dentro de mim
Aprecio meu dia ao contrário
Perdoe-me por ser assim

Cora Rufino
Porque eu tinha que postar de madrugada

terça-feira, 9 de março de 2010

Ditado Censurado

E num momento em que falávamos mal de alguém, proferiu-se.
- É, ele peidou na farofa.
As puritanas abismadas logo repreenderam:
- Que feio! Fala "soprou na farofa", é menos forte!

Daí eu imagino: que poder elas achavam que tinham de modificar, ou melhor, adaptar uma expressão popular?
Seria como dizer:
- Passarinho que come pedra, sabe o orifício anal que tem.
ou
- Mais feliz que pinto no escremento.
ou
- Quem tem abertura exterior do tubo digestivo, tem medo.
ou
- Ela é pobre e metida, dessas que comem ovo e querem "soprar" filé.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

piss&dream

Conversando com Roseta ela confessa:

"Às vezes eu acordo ainda lembrando do sonho que tive durante a noite. Daí vou ao banheiro fazer xixi e depois disso eu simplesmente esqueço o que foi que eu sonhei.
Menina, acho que eu mijo meus sonhos e não urina."

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

TRAVA-LÍNGUA


Uma aranha arranhava o jarro
Que também arranhava a aranha
Eu era um dos três tigres tristes
Excitados com aquela façanha

Eu adoro um trava-língua
Duas línguas se travando
Num ninho de mafagafos
Se amafagafizando...

Cora Rufino (Agosto 2006)
Prestes a virar musiquinha...