sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

momento "mamãe, faço teatro"

A última aula do semestre foi a de Improvisação Corporal.
O professor tem a fama de ser um mago, bruxo, que no último dia de aula olha para você, e descreve suas características psicológicas de uma forma que não tem como você dizer que é mentira.

Posto aqui uma mostra do trabalho de improvisação feita em dupla, com Danilo Lacerda.
Danilo é uma figura que também é fã de Lila Downs e Eugenia León. Ao ouvir a música "La Bruja" me chamou para fazer dupla com ele propondo:
- Posso ser a bruxa que te domina e molesta?
- Claro. - eu disse.

Foto de Bruni Santiago


Mas como a música que embalou nosso semestre hispânico foi "La llorona", não poderia faltar uns trechos dela. A primeira parte com Chavela Vargas e a segunda com Joan Baez. Ficou uma miscelânea esquisita na edição, cortes bruscos nas músicas. Pensamos até em tirá-las, mas a homenagem tinha que haver.

O ensaio, de onde os movimentos improvisados surgiram:




Abaixo trechinho da aula final, filmada por Eneida Baraúna:





E a cena na íntegra, filmada por André Avellar:



A iluminação, que também era improvisada e atendia a todas as outras duplas, acabou atrapalhando um pouco, mas isso são aprendizados. Eu estava de olhos fechados na maior parte do tempo, para dar a ilusão de desacordada, não fazia ideia de onde estava a luz. Enquanto isso, La Bruja me dominava com seus poderes e me molestava.
Que fófis.

É isso, mamãe.


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

São coisinhas pequenas, no fim das contas:


Assistir a um filme de madrugada, ouvir música alta. Pegar o carro, quando bem entender e sair, sentindo o vento nos cabelos, improvisar um percurso, parar na casa de um amigo, levá-lo à praça... Alugar um filme depois, ou comer uma pizza.

Fugir das festas de parentes, ouvir reclamação de mãe, nenhuma de pai, descontar no namorado, fofocar com amigo-irmão...

Tomar um banho de rio, tomar um açaí, comer tapioca, COMER PEIXE! Ficar na varanda trocando segredos, ir aos shows dos artistas locais, ensaiar um espetáculo, apresentá-lo para amigos e parentes...

Repetir e reclamar que tem que sair da cidade, que tem que largar o curso, o namorado, que tem que conhecer gente nova, conhecer lugares...

Andar nua pela casa, varrê-la ao som dos CD’s que eu ouvia na adolescência no talo, desenhar nas paredes, escrever nas paredes, surpreender as pessoas...

Comer Pirulin, arepas, paçoca de carne, ouvir reggaetón a contragosto, ouvir technobrega a contragosto, dançar reggaetón e technobrega adorando, nas festas entre amigos...

Sair de casa sabendo que vai encontrar alguém conhecido, mas sem saber onde nem quem...

Leite, na madrugada, com um caderno e uma caneta preta enquanto ouve a televisão...

Jô Soares antes de dormir, Jornal Nacional antes de sair, livro paradidático no domingo a tarde...

Sítio da tia final de semana, praia final de semana, filme pseudo-cult final de semana, gibis final de semana, um quarto diferente do seu de final de semana...

Sushi...

Botar dez reais de gasolina, dirigir sozinha pela cidade ouvindo músicas no som defeituoso do carro. E nisso, fazer uma cruz, no mapa da cidade, dirigindo, chegando até os limites dela, e dizendo sozinha “aqui ela acaba” no limite norte, “aqui ela acaba” ao chegar na ponte, “aqui ela acaba” voltando da periferia pobre, “aqui ela acaba” olhando as mansões na beira do rio...

E aqui eu acabo

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

11/11/11

Onze de Novembro de dois mil e onze...
Três casais, um em cada quarto
E um deles faz bodas de bronze
Outro é jovem e, nem de longe
sonha em separação

O terceiro, meia idade
representando o mês
Observa os casais juntos
um há dias, o outro há anos
Pensam: daqui a algum
tempo vamos mudar os planos

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

orquestra de lama


Dia desses fiz vinte e cinco anos.
Depois de rodar por vários cursos universitários, de viajar de tão longe em busca de uma formação artística. Cá estou.
Penso sempre em Roraima. Tudo o que eu estudo eu penso no meu grupo, tudo o que ganho penso em como usar isso no meu retorno...
Roberto Ramos que me disse: “não faça planos. Deixa a vida seguir”.
Mas como cumprir isso? Tudo nesse curso me remete às minhas origens.

Daí fiz o tal do quarto de século, e ontem choveu aqui na cidade. Torrencialmente. Eu estava esperando a aula começar e acabou a energia do prédio, então todo mundo foi para fora, onde ainda tinha claridade, mesmo que nublada. Eu olhava para a grama onde nos sentávamos nos dias de Sol, quando Ítalo falou:
- Gosto de tomar banho de chuva.
Olhei para ele e imaginei a cena. Estava tão frio e chovia tão forte...
- Vamos, então? – perguntei a ele meio incrédula
- Vamos – respondeu
Caminhamos pela graminha, e nos sentamos naquele tronco deitado. Igual Rosinha e Chico Bento. A chuva era forte e comecei a me incomodar com minha roupa molhada, talvez por isso eu tenha voltado correndo. Ele veio atrás.
Rogério falou para nós dois:
- Vamos?
E nós três fomos.
Um banho bobo de chuva, a princípio. Chegamos ao tronco e eu pensei “vai sujar minha roupa”. Para os homens é mais fácil, é só tirar a camisa.

De repente a Tainá pula de cima do muro. Cai como um gato, de quatro na poça. Nos assustamos. Foi o tempo para ela pegar um bolo de lama com as mão e jogar em todos nós. Saímos correndo num pega-pega entre árvores. Escorreguei, me deixei pegar pela mulher, virei a “manja”, saí correndo atrás deles e em cima do muro surgiu um rapaz, tocando flauta.
“É um sonho?” Pensei.
O flautista pulou do muro, estávamos cantando e dançando como se fôssemos elfos. Apareceu outra menina, ela abraçava as árvores, alguém mais pulou do muro com uma panela gigante de metal. Batucava a panela, o flautista continuava, e logo surgiram outros “instrumentistas” pelo muro. Com arames, pedras e madeiras, formamos uma orquestra.
Entoávamos nossas cantigas, fazíamos harmonias e a chuva ia enfraquecendo.
Pintaram meu rosto com lama preta, parecia que eu estava pronta para a guerra.

Lembrei de um trecho de uma música do Infected Mushroom que diz assim:
I’m waiting for the rain, to wash who I am” (Tô esperando pela chuva, para lavar quem eu sou). A música se chama I wish (eu desejo).

Falando em Infected Mushroom, sábado tem show deles aqui. E é claro que eu vou.

Porque I wish...


...e tô pronta pra guerra... 

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Improvisação II - Hotel



Na aula de improvisação II, o temido "hotel"

Tarefas: você está com fome, descobre que tem uma festa no último andar de um hotel. você tenta entrar de penetra na festa mas está vestido de forma inadequada.
Dificuldades: Problema ao atravessar a rua, ao subir para o último andar (de escada ou elevador), utilizar mímica, e na hora em que for pegar o salgadinho da mesa é impedido pelo segurança. Você escolhe que tipo de trajes inadequados você está, e que tipo de festa é essa no hotel.

Cada vez que vejo esse vídeo encontro erros crassos. Mas a academia é para isso... falou-se. Então vale.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

DUAS SEM NOME


Tanto frio é no meu leito 
Que faz o sonho hesitar 
Não há no mundo um lençol 
Que possa a minha alma esquentar 

Pêlos se erguem no corpo
Onde a brisa toca de leve
A lágrima que aquece o rosto
Tem o efeito muito breve.
 

Os dias deveriam ser domingo
Pra que eu amanhecesse em sua cama
Por isso deveriam ser domingo
Cada um dos sete dias da semana.




Cora Rufino


**


De épocas atrás

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Peixe Capilar

Esses cabelos são como um rio
Onde eu rio depois de mergulhar
Pois percebo o escafandro vazio
Virei um peixe capilar.


Já percorri várias águas doces
Me adentrei em raízes e brechas
Juro por Deus, nada é mais perigoso
Que um simples mergulho aqui nessas mechas


Me deixe imergir
Nos seus cachos profundos
É aqui onde quero morar


As ondas castanhas
da sua cabeça
São o meu verdadeiro habitat


Esses cabelos são como um rio
Virei um peixe Ca-pi-laar



Cora Rufino e Joana Emilly

***

Musiquinha que eu e minha prima estávamos fazendo uma vez, de madrugada, gravando no celular.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

aos malucos (e suas sandices)

Há mais ou menos um ano
Era Setembro.
E os Setembros sempre nos revelam algo (ou nos escondem).
E lá estava eu na minha vida roraimense, num final de semana qualquer, e me disseram:
- Ó, me deparei com essa informação: "inscrições abertas para o vestibular de artes cênicas"
- Ah... é? Hum... quem sabe um dia eu resolva tomar coragem... Tá quanto a inscrição?
- Noventa.
- Vixe, esquece! Além do mais é muito longe. Se eu tivesse pelo menos um conhecido lá. Deixa eu terminar minha faculdade de Arquitetura primeiro e aí quem sabe...enfim.
Um Setembro depois e cá estou eu, na cidade longínqua com os desconhecidos.

Meu pai ontem me falou que faltou à prova do concurso público. Disse que não queria ser professor e nem queria se isolar no interior.  Iria se dedicar à arte: pintar quadros e escrever poesias.
Eu, que sempre faltei às provas de concursos públicos, que pegava o dinheiro da inscrição - que minha mãe me dava - para comer sushi, me espantei. Pensei: "Que maluquice! Trocar a estabilidade financeira para correr atrás de algo tão incerto..." Mas minha tristeza não estava no ato dele, mas no meu ato ao pensar a exclamação "que maluquice".
Me lembrei de todo aquele "futuro brilhante pela frente" e tudo mais que eu larguei. E pensei ontem: "será que eu servi de inspiração para essa sandice?"

"Sandice"?

Não, não é sandice não. Eu o apoio, claro que apoio. Sei como é ruim fazer coisas que não se gosta, abandonar de hora em hora nossas fantasias. Ir todo dia para um trabalho ou um curso que você sente que não lhe acrescenta em nada. E você se sente idiota. Um vazio.
Mas, quando ele disse que gostava da minha independência, tive que falar:
- Minha independência só é possível por causa dos precatórios da mamãe. O dinheiro que eu tinha guardado só durou até Maio. Tempo suficiente para convencer ela e minha tia a me ajudarem.
E revelei minha preferência pela licenciatura agora.
- Vida de professor é uma vida árdua. - ele disse.
Eu queria mesmo era ser bacharel. Entrei aqui pensando nisso. Mas observando melhor... quer vida mais árdua que a de artista? E olhando meus colegas veteranos, que optaram por licenciatura e estão em cartaz com espetáculos, penso que uma coisa não exclui a outra, mas complementa.
Felicidade versus Dinheiro era algo mais claro antes. Hoje nem tanto. Mudei minha habilitação morrendo de medo de estar errando pela terceira vez. Pensei no dinheiro.

Sobre o isolamento: metade da minha sala veio do interior do Estado. Qualquer final de semana é motivo para viajar e rever a família. Não se está tão isolado assim...
Hoje em dia não existe isso.

Não penso mais sobre "maluquices" ou "sandices". Só quero que ele seja feliz... acho.
É Setembro ainda. É um mês de acontecimentos.
Só sei que eu vou querer um exemplar do seu livro de sonetos, Eli.
Continue!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Passatempo


Palavras cruzadas
Conversas atravessadas
Agora sei que não foi mais que um passatempo

Cacei palavras para dizer
E não consigo conceber
Os muito mais de sete erros desse intento

Cora Rufino



***


Da mesma série de "trava-língua" e "palavras cruzadas" que fiz uns anos atrás.

sábado, 17 de setembro de 2011

cara de cult

No Twitter:


@CoraRufino - Impressão minha ou o cachorro da vizinha se chama Rousseau?
@... - deve ser Russo, vc q é sofisticada demais.


Já não basta o passarinho do condomínio que pia "Dio come ti amo"


***


Tava chegando a conclusão que a pobreza nos torna cult: Para assistir um Planeta dos Macacos no Cinemark pago quase 10 reais a meia entrada. 
Uma mostra de filmes franceses tá R$2,50. E a maratona do Poderoso Chefão é de graça.





quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Dente

Na aula de improvisação vocal, Eneida me pergunta:
- Você já limpou seu dente?
- Por quê? Tá sujo?
- O quê tá sujo?
- Ué, o meu... o que foi que você perguntou?
- Se você vai para o Improcedente.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

há mais ou menos 30 dias

Um mês passou tão logo
E eu rogo para que agora
Eu lembre que a nova Cora
Transformou-se aquelas noites

Um pouco perdida,
No fim das contas
Um pouco bandida
Com o fim
E as contas

Hoje, o futuro
Daquelas vezes de coragem,
Reflito com o pensamento
De virgem
em desvantagem

Meus olhos iam nos outros
olhos
O coração em latidos
Um mês passou tão logo
E eu rogo... 
Nesse presente
Que daqui pra frente
A ousadia de novo
passeie comigo

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nojeira

Esses dias estava lembrando de quando fazia Arquitetura. Estudava com uma garota chamada Lili que era auxiliar de necrópsia.

Portanto quando tínhamos trabalhos em grupo, e ela estava de plantão, tínhamos que ir ao Instituto Médico Legal e, esperá-la no alojamento (enquanto ela terminava de abrir cadáveres e virá-los do avesso).

Numa dessas vezes ela adentrou o quarto onde eu estava aguardando.
Ela estava com os olhos arregalados e respiração ofegante, dizendo "Que nojo! Que nojo!" com as mãos na boca. Visivelmente atordoada.
Perguntei o que tinha sucedido, imaginando que o cadáver daquela noite teria sido algo inédito para ela.

Imagine só, trabalhar abrindo corpos humanos em putrefação é algo que gera certa indiferença ao que nós consideramos nojento. E para Lili estar naquele estado em que se encontrava, com certeza o defunto era uma coisa extremamente... excepcional.
Tentei usar minha imaginação para visualizar o que quer que Lili tivesse visto. No mínimo não deveria parecer um ser humano. Talvez a textura fosse viscosa, talvez o formato... disforme, talvez a cor, talvez o cheiro?
O que tinha de diferente naquele cadáver que pudesse trazer tanto horror a uma profissional da morte?
- O que aconteceu, Lili? - perguntei meio com medo de ouvir a resposta.
Ela buscando se orientar, me revelou finalmente:
- Ali no corredor... uma barata... enoooorme!!! Enoooorrrmeeeee!! Nojo! Nojo! Nojo!



Desde esse dia eu passei a refletir o conceito de "nojeira"...
Mentira nunca refleti.
Mas me parece questão de hábito. Ou de cultura?
Ou psicológico?
Esses dias me deparei com o "objeto" da minha fobia e, mesmo que minha razão dissesse "não é nada demais" eu enrijeci-me toda e quis vomitar...
Até quando?



domingo, 21 de agosto de 2011

Beduíno

Um ser viajante, o beduíno
Traz um gesto genuíno
Ao entranhar-se nas lacunas
Do mundo, das altas dunas
Passou, ele, pelo oásis, mas não encontrou fortuna
Nem ventura
Conheceu um ser humano
Igual sua própria figura

Tão estranho o outro ser
Que era também tão outro seu
O viajante perdeu-se
Pela primeira vez

Quando achou o caminho da volta
Despediu-se em cortejo
"Sabe Alá quando eu retorno para ver quem hoje vejo"
Talvez breve, talvez nunca
E aproveitando o ensejo
Beijou a outra figura
Com a boca rachada do sol, da areia
da poesia leve e pura

Partiu pelo deserto de cascalhos meio mornos
Pensava com seus camelos
"Sabe Alá quando retorno"


Cora Rufino

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Didascália 2

- Por que você está usando vermelho?
- Não. Está enganada. Estou vestindo branco. O Sr. Jordán gosta que todos os empregados estejam de branco. Assim, passam pela casa como se fossem móveis ou parte das altas paredes.
- Mas está tudo vermelho... por quê?
- Logo logo voltará a enxergar de novo, senhora.

(Texto dramatúrgico "O Travesseiro de Plumas" de Francisco Alves Gomes, inspirado no conto homônimo de Horacio Quiroga)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pitomba.

Pé de pitomba
Pede que tomba
Eu danço quadrilha
Tu danças milonga

Pé de pitomba
Quem foi que te tombou?
O dançarino que por aqui passou

Pé de pitomba
Pede que tomba
Tu danças teu tango
Que eu danço La Conga


Cora Rufino


Porque tudo o que eu queria hoje era uma cacho de pitomba...e dançar. Só.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Dia offline.

 Tudo o que você acha interessante você tem que compartilhar entre seus amigos ou seguidores ou leitores (depende da rede social). A piada da qual você acha graça é quase instantaneamente repassada com um simples botão. Antigamente se mandava piadas por email. Antigamente eu falei? Não, antigamente as pessoas se reuniam num bar, ou no trabalho ou na família para contar as piadas. E conforme a piada ia se espalhando, novas versões iam sendo criadas. Cada pessoa tinha uma maneira de ler a história.

E eu vou me lembrando das fases da minha vida de acordo com a internet e suas novidades (e obsolescências) contínuas.
No meu aniversário de nove anos entrei na internet pela primeira vez e meses depois (no site da Turma da Mônica) descobri o que era um Chat. Vieram os primeiros amigos virtuais.
No meu ensino fundamental existia o Canal Roraima, o chat só dos roraimenses. Mais amigos virtuais (que podia até ser meu vizinho)
No ensino médio surgiu uma onda chamada Blog! Mais amigos. Era um tal de comentar no blog alheio para fortalecer a amizade e expor pensamentos adolescentes para as quem quisesse ler. A novidade era a subversão daquele diarinho que a gente trancava com cadeadinho depois de escrever nele, e colocava-o debaixo do travesseiro, para que ninguém pudesse lê-lo enquanto dormíamos.
Porque estou me alongando falando de blog? Ora... é a metalinguagem do meu post. Na verdade eu já tive ICQ, Fotolog, Flogão... Mas o blog vai ficando e sobrevivendo às ondas.
E os amigos virtuais que se faz através dos blogs têm alguma qualidade diferente daqueles que se faz nas redes sociais atuais.
Outras  fases da vida que eu lembro através da internet: na faculdade de jornalismo tínhamos o Orkut, na de Arquitetura apareceu o Twitter e agora, no Teatro, aderi ao Facebook.
E o fato de ter mudado de cidade ajudou para que eu ficasse mais tempo nelas e até o Skype tô usando.

Lembrei daquele menino que foi acampar perto do lago com um grupo. Mas no segundo dia queria voltar para a cidade para entrar na internet e “conversar com pessoas”, esse foi o termo: “conversar com pessoas”. Tava abitolado de tal forma, que não decodificava mais “pessoas”. Eu tô beirando isso. A ânsia por conectar-me à rede acaba me dispersando do mundo me fazendo dar mais importância aos avatares do que à carne e ao osso.

Então chega de interatividade (dessa natureza). Nem que seja por um dia. Tempo simbólico.
Nada de amigos virtuais, só pessoas tangíveis!
Nada de avatares, só pessoas reconhecíveis!
Nada de comentários curtos lidos em telas! Só os ditos na cara para serem ouvidos.
Nada de e-books! Abrir um livro e sentir seu cheiro...
Comer sem sujar o teclado, apenas comer...

Ou seja, tudo isso envolve os cinco sentidos que acabam sendo suprimidos na cibernética...
Neste domingo, dia dos namorados, me desliguei da Matrix...

E, claro, esse post eu não publiquei domingo para não quebrar a promessa. E quer saber, o dia foi bom. Nem senti falta de me conectar. Conheci finalmente a Brescia (minha amiga virtual há dois anos) que se materializou aqui na cidade. Não me comuniquei com o Murilo, apesar de ser dias dos namorados, pois ele estando em Roraima e eu aqui, ele fica na condição de namorado virtual, e as coisas virtuais eu aboli de mim nesse domingo. O problema é o rastro de lesma que já deixei no tal do ciberespaço: voltando para ler os emails, uma pilha de coisas para fazer.

Ser eremita parece que é um dom já que a comunicação (dessa natureza) é um vício: toma seu tempo e seu dinheiro e difícil de dosar sem grandes prejuízos.
Ces’t la vie...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Bebinho

Na porta do grupo Espanca!
O bebum abrindo o jogo
Chegava botando banca
Perguntou se eu tinha fogo

Pendia pra trás e pra frente
Tentava riscar o palito
O homem não tinha em mente
O vento um tanto aflito

Com sua oscilação corpórea
Tentava acender seu cigarro
E eu findo minha história
Nesse versinho bizarro

Ah, sim! Falta o resumo!
 (Pra findar no verso quatro)
Conseguiu queimar seu fumo
O "bebinho" do teatro.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Dizendo xis

Normalmente não me acho fotogênica.
E não entendia por que, no meio do nada, alguém da turma resolvia puxar uma câmera e registrar aquele momento tão normal.
- Depois daqui vamos no lugar tal tirar umas fotos? – me chamavam
- A foto deve ser um acaso não o objetivo da saída! – eu dizia. E não aceitava.
Difícil achar uma foto minha tirada só por tirar. É preciso uma história por trás. E nessa de evitar ser fotografada sem motivo, percebo que quase não tenho fotos do meu tempo presente. Digo, fotos cotidianas. Mas de que servem as fotos?

Até mesmo quando fui às cachoeiras ano passado, com a turma da Arquitetura. Das mil fotos que foram tiradas eu aparecia em cinco.
- Onde você estava nesse momento? – perguntavam
- Tomando banho no rio! – e justificava – em vez de parar a cada dez passos para fotografar eu estava observando com meus próprios olhos o local onde estava.

Agora que mudei de cidade, tenho sentido falta de ter uma câmera fotográfica. Documentar justamente o que eu evitava contar: a vida cotidiana e mostrar meu rosto.
Então a professora pede que levemos para a próxima aula fotos nossas de quando éramos crianças.
- E para quem não tem fotos de infância aqui nessa cidade?
- Pode pegar de revistas.

Normalmente modelos infantis de revistas são fotogênicos. Mas artificiais.
Como eu era quando criança? Missão: conseguir minhas fotos de criança.
Murilo foi lá em casa, pegou as fotos, scaneou e me mandou por email.

- camaleão!

Olhando-me nas fotos, pela primeira vez observo minha infância com o olhar de adulta. Será que era assim que minha mãe me via? Pequena e frágil? E o meu pai? Olhava para mim e me via magrelinha e sapeca?
Nessa foto, tirada por meu pai, estávamos os três na casa de dele observando um iguana na árvore. Era uma das primeiras vezes que eu manuseava um binóculo.
Lembrei que nunca fomos uma família de comercial de margarina. Meus pais nunca foram casados, nunca moramos os três juntos. Mas haviam situações que induziam um ajuntamento nosso.
E nesse dia da foto, estávamos unidos por um lagarto.

Um dia na Praia Grande, a praia doce do rio Branco. Quintal de casa praticamente.


casa do meu tio Eliakin usando a saia da minha prima que fazia ballet

Fazendo do balão um beiço
 
Interessante que todos os objetos com os quais posei não eram meus. Talvez o balão furado.
De qualquer forma, mesmo forjando as futuras lembranças do passado, eu estava feliz.


terça-feira, 10 de maio de 2011

relaxa e canta

Durante a aula de Técnica Vocal, entre conversas, Alice vira-se e diz:
- Eu só canto quando estou gozando.
- Como é que é?
- Quando estou gozando da cara dos outros.
- Ah...

terça-feira, 26 de abril de 2011

O PRAZER É MEU!

Não era feia, pelo fenótipo.
Não era malnascida, pelo semblante.
Não era pobre, pelas roupas, pela bolsa, pelo cabelo bem tratado
Não era puta, porque a indumentária e a maquiagem estava muito bem dosados.
Não sei se eu me baseava por estereótipos ou pelos arquétipos teatrais. Provavelmente por estereótipos.
Mas era uma mulher, bonita, de seus 40 anos, de olhos claros, cabelos ruivos, elegante e bêbada.
Cambaleava, mas numa cadencia não-vulgar.
Um personagem gostoso de analisar.

Eu já tinha visto ela passar por ali dias atrás.
Como esquecer aquela imagem?
Entre loucos e indigentes, tinha surgido aquela figura limpa, de postura ereta, tropegando bem de leve segurando sua bolsa a tira colo. Andava em zig-zag até sumir dobrando a esquina.

Mas hoje a noite, aquela mesma figura, do mesmo jeito que estava do outro dia quando a vi, sentou-se ao meu lado no ponto de ônibus.
Cada uma na sua, em silêncio.
Um rapaz se aproximou dela e perguntou:
- Como eu faço para te conhecer?
- Não faça nada! – ela disse – Você não vai me conhecer.
O rapaz conformou-se e foi embora.

- Cê viu isso? - Ela virou para mim.
- O quê?
- A cantada do cara! Vê se pode! Não existe mais gente criativa nesse mundo!

E a mulher falava. Desatamos uma conversa sobre homens e sobre o bar do outro lado da rua.
- Eu adoro esse bar! – ela disse apontando para o bar em frente ao ponto.
- Eu sempre pego ônibus nesse ponto aqui por causa do bar. – falei - Ele me dá a ilusão de que eu não estou só. E que estou rodeada de gente feliz e que se gritar por socorro alguém vai sair de lá para me socorrer. Bobagem.
- Esse bar é tranqüilo – ela completava – hoje por exemplo, bebi todas e ninguém mexeu comigo. Há duzentos anos venho aqui e sempre foi tranqüilo. Sento, bebo quieta e não sou importunada.
-...
- Cê bebe?
- Eu? Bebo muito pouco. – respondi
- Cê bebe comigo?
- Hã... é que eu...
- Cê tem cara de quem não bebe cerveja. Só bebe destilados.
- Bebo cerveja sim! – disse eu indignada
- Então vou pegar dois latão pra gente!
- Ah, não! Precisa não... eu nem tenho dinheiro...
Ela já tava atravessando a rua.
Voltou com os dois latões de cerveja. Agradeci, meio sem graça. Fizemos um brinde depois de abertas as latas. E eu, ao me ver naquela situação, tomando cerveja com uma estranha em pleno ponto de ônibus pensei: Aloka!

- Como é o seu nome mesmo? – ela perguntou.
Eu respondi mas pensando que ela, como todo mundo, iria esquecer dali a 5 minutos. Ou me chamar de Carol ou Flora... como todo mundo também.
- Nome de uma escritora... – informei
- Eu sei. Eu lembrei dela quando você falou.
Acrescentei “culta” à minha listinha mental sobre a mulher.
O nome dela era Cássia e ela falava:
- Tudo que começa com “C” é bom: Cássia, Cora, coração, cinema, carro, Chevrolet, cerveja, cachaça, carinho...
- Verdade!
E rimos.
No fundo eu a usava como proteção. Quem passasse por ali não saberia que na verdade eu estava desacompanhada. Mas lembrei também de quando fazia Jornalismo e entrevistava pessoas estranhas a mando do professor:
- Você faz o que da vida, Cássia? Digo... de dia.
- Sou segurança.
- Sério?
- Pois é! Eu com o meu tamanhinho... e de um banco, pra piorar.
- Cê gosta do que faz?
- Amo.
- Ai! Uma barata! – exclamei.
- Onde? – ela levantou-se – Adoro baratas! – e pisou nela com sua bota de salto. Perguntou:
- Fez barulho?
- Fez não. – falei
- Que pena... adoro quando elas fazem barulhinho... – sentou-se falando o quanto estava triste porque a barata não fez barulhinho ao ser esmagada. Barata fofa.
Mais tarde pediu:
- Cê faz barreirinha para mim? Vou fazer xixi ali.
- Aqui no meio da rua?
- Ah, então ali na esquina!
Ela correu para a esquina.  Eu prometi barreirinha mas não fiz, com vergonha.
- É que tem gente passando...
Ela mijou assim mesmo.
- Você é atriz! Não deve se chocar com essas coisas!
Notei que eu também era alvo de estereótipos.

Noutro momento ela falou:
- Na empresa onde trabalhava eu achei no lixo uma carteira...
- Meu ônibus! – anunciei.
- ... e eu era uma reles servente, veja você...
Levantei, fiz sinal para o ônibus parar
- ... uma carteira bonita, de couro...quando vi, pensei em dá-la para o meu namorado...
O ônibus parou e enquanto as portas se abriam ela berrava o final da história com rapidez:
- TINHA UM CHEQUE DE DOIS MIL REAIS DENTRO DELA! E EU DEVOLVI! EU DEVOLVI!
- QUE BOM, CÁSSIA! – gritava eu subindo a escada – PRAZER EM CONHECÊ-LA!
- O PRAZER É MEU!


terça-feira, 5 de abril de 2011

Sarau de boutique

Quando eu nasci um anjo torto me disse: "Dei um mal jeito na coluna!". 
Por isso ele era torto, pois não fazia pilates. 
As asas pesavam chumbo. 
Mas feitas de ouro 18 quilates.
Esqueci de dizer que era desses que vivem na sombra. 
Já eu, vivo no blush e no batom. 
Acho que vou ser Gucci® na vida.
No mínimo Louis-Vuitton®.
Porque no meio do caminho tinha uma brega!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Didascália - Bodas de Sangue

CRIADA (penteando-a) — Você é que é feliz: vai abraçar um homem, e bei­já-lo, e sentir o peso dele!

NOIVA — Pare com isso.

CRIADA — E o melhor vai ser quando acordar, e sentir que ele está bem ao seu lado, com a respiração roçando os seus ombros, como se fosse uma peninha de rouxi­nol.

NOIVA (forte) — Quer ficar quieta?

CRIADA — Mas menina! As bodas, o que são? As bodas são isso, e nada mais. São os doces, por acaso? São os ramos de flores? Não. É uma cama brilhando, um homem e uma mulher.




(Bodas de Sangue – Federico García Lorca)

sábado, 2 de abril de 2011

trânsito vital

Eu tinha me perdido. Era o terceiro dia de aula, na nova cidade, e eu me perdi.
No fundo acho que foi de propósito, pois eu sabia como chegar mais rápido à sala, mas quis tentar um caminho diferente.
Eu e minha mania desses caminhos diferentes.
Então me perdi. Fui parar num bairro que eu não conhecia. Olhei o lugar, as pessoas e várias coisas enquanto o ônibus fazia a volta e ia para o Centro.
Pelo menos o centro é mais familiar.
Que cidade é essa que eu nunca vi? O que foi que eu fiz da minha vida? E outras questões clichês.
E aí comecei a chorar. No ônibus, em público. Odeio chorar.
Sério.
Eu bebo pouca água diariamente e chorar me deixa com sede.

Uma vez eu estava dirigindo na Av. Major Williams, em Roraima, e no semáforo, sob o sol de meio dia, ouvi uns soluços.
Olhei para o lado e tinha uma mulher num carro caro, chorando.
Ela apoiava a cabeça num dos braços, que estava levantado, apoiado no encosto de cabeça do banco. Ela tinha óculos escuros. Ela tinha o rosto molhado.
Abri meu porta-luvas e tirei de lá um boneco de pelúcia que costumava ficar pendurado no retrovisor. Pensei em jogar pela janela dela. Ela iria se surpreender, olhar o objeto, olhar quem jogou e aí eu olharia para ela e faria o sinal de positivo. Diria "A vida segue. Isso vai passar, blablablá"
Às vezes me dá vontade de fazer intervenção urbana.
O que provavelmente aconteceria era ela se assustar com o objeto voando janela adentro. Isso pioraria seu humor, seu estado de espírito e o que quer que tivesse acontecido à ela, se agravaria com o susto daquele humanóide de pelúcia olhando e sorrindo, como se a vida fosse bela.

O sinal abriu.

Eu tinha me esquecido de engatar a primeira. Precisei largar às pressas o bonequinho num canto qualquer para poder sair do lugar.
Senão iriam começar a buzinar gritando em fúria que a vida segue.

As velhas

Lembrei daquela vez, que contei aqui, quando dei carona para uma velhinha lá em Boa Vista.
Ela dizia que estava vindo do Rock!
Depois entendi que a velha roqueira vinha da casa do Bispo da cidade, o Dom Roque, meu vizinho.

Aqui na nova cidade, não ando de carro, ando de coletivo. O que não deixa de ser interessante.
Volta e meia tem alguém dentro do ônibus pedindo uma ajudinha financeira em prol de alguma causa ou alguém.
Às vezes dá vontade de dar, mas se eu fizesse isso com todo mundo que pedisse nos ônibus eu seria a próxima pedinte no lugar deles.

Dia desses, na  parada de ônibus, uma velhinha se aproximou.
Eu sorri para ela. Não sei por quê. Mas aquele dia eu queria olhar alguém nos olhos e sorrir para ver no que dava. Eu tenho dificuldade de olhar as pessoas nos olhos.
Ela sorriu de volta.
Perguntou:
- Você vai para onde?
"que intrometida" eu pensei.
- Faculdade.
- Você estuda o quê?
- Teatro
- Que lindo! Eu vou para o hospital.
- Hum...
- ...
- ...
- Você estuda há muito tempo?
- Não.
- Entrou agora?
- Entrei.
Percebi que eu estava monossilábica.
- Minhas aulas começaram há pouco tempo. Estou conhecendo a cidade, eu não sou daqui.
- E veio para estudar?
- Isso.
- Ó lá! O ônibus!
Subimos. Fiz menção para a senhora subir antes de mim. Ela me disse:
- Eu pago a sua passagem.
- Oh! Não! Não preci...
Ela sinalizou para que eu parasse de falar. Pagou minha passagem e sentou-se.
Sentei perto dela porque... achei que devia.
Ela saltou antes de mim, sorrindo. Olhou para trás, se despediu, desceu do ônibus e nunca mais a vi.

Ontem mais um homem pedia dinheiro no ônibus. Pelo seu filho hospitalizado.
Dei duas moedas, esperando que não fosse um golpe.

E quanto tempo se demora para ter um coração de velhinha?

quarta-feira, 9 de março de 2011

Mais uma vez... caloura.

Maira chorou, Dona Conceição chorou, Marcelle chorou, Carol do Léo chorou...
A cena teatral Roraimense é tão pequena que a gente sabe o nome da maioria das pessoas da platéia. 
A primeira vez que alguém chorou vendo uma peça minha foi em 2007, na leitura d’O Visitante, de Hilda Hilst. No bate papo que sempre tem depois das leituras a Bárbara comentou aos prantos que ela sentiu a minha angústia. Lembro que naquele dia eu chorei em cena. Foi o primeiro drama que eu fiz.

Daí uma estréia 26 de Fevereiro de 2011. Outro drama. Mas um drama que foi gostoso e divertido fazer. Um drama entre amigos. Cheio de metáforas interiores e piadas internas. Simbolicamente forte, pois nesse dia de Fevereiro a nossa companhia de teatro fazia um ano de existência. Enquanto a história rolava no palco, lágrimas rolavam no público.
O terceiro dia de apresentação, no dia 28, mais simbólico ainda. Na madrugada após o espetáculo eu e Francisco pegaríamos cada qual o seu avião. Meu namorado chorou, minha mãe chorou, mas nada tinha a ver com a peça.
Francisco foi fazer seu mestrado na UnB e eu... minha terceira tentativa de começar uma graduação bem sucedida. Dessa vez em outra cidade, dessa vez um curso que eu goste.

Gosto muito de Roraima, aliás. Muito mesmo. Mas sabe-se lá porque eu sentia que Roraima não gostava muito de mim. Tô me fazendo de vítima talvez. Mas eu tentei que desse certo.
As vezes é irritante saber o nome de todo mundo da rua (ou da platéia). Ao mesmo tempo é altamente contraditório não conhecer quem mora com você ou ao seu lado.
É angustiante ver que decididamente você não vai terminar aquela faculdade.

Dos fatos mais recentes para o mais antigo: comecei Arquitetura porque visualizava a cenografia teatral. Comecei Jornalismo por causa do jornalismo cultural e do cinema. Ao cinema eu queria me dedicar, com 18 anos, porque queria contar histórias de ficção, criar personagens e compor uma cena instigante que eu não conseguia de jeito nenhum transportar para os desenhos que eu fazia aos 13 anos.

Aos 13 anos eu entendi que eu não seria a primeira mulher brasileira a fazer muito sucesso com quadrinhos no mundo. Por mais que nos quadrinhos houvessem os ângulos de câmeras, os planos, as expressões corporais e faciais, a luz e sombra (iluminação), as onomatopéias (efeitos sonoros e sonoplastia) eu também não seria cineasta. Mas ainda não sabia.

Eu tinha 14 anos quando minha tia falou:
- Você ainda não sabe cozinhar?
Eu disse:
- Quando eu crescer vou contratar uma cozinheira. Assim não faz diferença eu saber cozinhar ou não.
Ela disse:
- É, mas se você não souber cozinhar como vai saber que ela tá fazendo certo? Como vai administrá-la?

Não era uma metáfora, mas servia como.
Se eu não aprendesse a atuar, não seria uma boa diretora de filmes. Mas colocar esse hobby ou esse refúgio como primeiro plano? Nunca na minha vida.

E de repente, eu estou aqui, num apartamento de uma cidade grande, esperando que amanheça logo para eu ir p/ a minha primeira aula na minha nova Universidade...
Qual é o curso dessa vez?
Aquele que junta um pouco de quadrinhos, jornalismo, cinema, arquitetura e todas as outras coisas que existem. Aquele que faz chorar e gargalhar (como aconteceu no teste de habilidade específica p/ entrar no curso).

E olha só... eu ainda não sei cozinhar.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O ano do Tigre


Meu tio tinha um livro nas mãos, ele falava sobre o horóscopo chinês para a sua amiga Lili. Nesse horóscopo, o seu “bicho” é determinado de acordo com o ano em que você nasce e 12 anos depois o ciclo do seu “bicho” recomeça.
O ano era 1998, eu assistia à cena da explicação do meu tio para a Lili, onde ele elucidava:
- Você nasceu no ano do Tigre. E veja só! Esse ano também é o ano do Tigre! É o seu ano Lili!
Lili ficou contente.  Completava, naquela época, 24 anos. Um múltiplo de doze que era a quantidade de anos que o Tigre demorava para aparecer em sua vida.
Hora de calcular o meu “bicho”no horóscopo. Deu Tigre também!
Lili era doze anos mais velha que eu, e essa história aconteceu há doze anos, e desde então não soube mais de Lili.

Em 2010 eu fiz 24, assim como Lili em 1998. Esse foi um ano do Tigre, e eu nem lembrava dessa história até meu tio me falar no meu aniversário. 
Nunca fui esotérica, mas gosto de ouvir as teorias. O que significa quando é o seu ano no horóscopo chinês?
Grandes acontecimentos.

Dois Mil e Dez... grandes acontecimentos principalmente na área artística:

MÚSICA
Comecei o ano vocalista de uma banda, fiz um show em Janeiro e outro em Fevereiro. Falecida Somero (que rima) deu início ao projeto Margarida Kamikaze com o Paulo, ex-baixista e a Lorena que toca guitarra e faz arquitetura comigo.
Nunca ensaiamos. Compúnhamos virtualmente: eu e o Paulo escrevíamos umas letras e mandávamos por email para os demais; Lorena e Paulo musicavam, gravavam no Audacity e enviavam por email. O baterista, Cleber, tava terminando a monografia e não conseguíamos nunca encontrar todo mundo. As vezes o Giovani, outro guitarrista, não dava sinal de vida. No fim todos éramos assim.

TEATRO
Final de fevereiro, junto com o fim da Somero surgiu a Companhia do Pé Torto. Um grupo de teatro formado por mim, Francisco, Baronso, Vito e meses depois Juliana e Sony. Desde que saí da Cia. Do Lavrado em 2008, nunca mais tinha exercido qualquer atividade teatral a não ser ministrar umas oficinas aqui outras ali. Quando me chamaram para uma banda, mesmo não sabendo cantar, imaginei uma peça onde eu interpretava uma cantora. Tem nada a ver uma coisa com a outra. O fato é que naquele dia de Fevereiro dissidentes de outros grupos de teatro fundavam a Cia. Do Pé torto, com o intuito de “caminhar diferente” dessa vez. Daí o nome. Criamos uma logomarca, tiramos o CNPJ e aprovamos um projeto de montagem de espetáculo na Funarte (Prêmio Myriam Muniz 2010) em Julho.

ARTES VISUAIS
Em Abril me convidaram para ilustrar um livro. Um absurdo visto que eu não tinha tempo nem para a faculdade e curso de Edificações além do trabalho. Mas aceitei, para ver no que ia dar, até pela oportunidade rara, até para saber do que eu era capaz. Descobri muito sobre mim ao ilustrar o livro Tudo ao seu tempo de Aléxia Linke, escritora com quem antes eu só falava quando encontrava em eventos culturais. Ela queria uma história em quadrinhos (o que deixa tudo mais trabalhoso ainda) pois era um livro que começava para crianças e terminava para adultos. Que ousadia! Muito interessante trabalhar inclusive como roteirista, adaptando a história, desenhando, esboçando. Para colorir e arte-finalizar chamei Ramayana, artista que conheci no curso de Edificações. Os outros contos e a capa foram feitos pelo talentosíssimo Renato Costa. Meses de trabalho, aprendi muito, muito mesmo sobre amizade e sobre equipe... Lançamos o livro em Novembro na Feira de Livros do Sesc-RR. O que me rendeu mais convites de escritores como Zanny Adairalba, João Urt e ainda ilustrei uma cartilha ecológica da monografia da Cris.

POESIA
Em Junho me inscrevi no concurso de poesias do SESI-RR, o Conpoesi, apenas pelo dinheiro (eu precisava pagar minha ia à Manaus para ver o Festival Internacional de Teatros de Objetos-FITO). Para a minha surpresa, minha poesia foi classificada, ganhou 2º lugar na categoria interpretação e 3º na categoria escrita. Trofeuzinho, cachezinho, saldei minha dívida e paguei a Lorena que fez fundo musical no violão.

AUDIOVISUAL
Em uma semana, junto a Gabriely e Baronso, um curtinha para concorrer ao festival do minuto da UFRR em Setembro. Não ganhou, mas foi o mais aplaudido (que eu me lembre. Será?).


Muito interessante o Tigre que passou em minha vida.
E depois de muito tempo sem notícias, reencontrei Lili no começo do mês, na casa de meu tio. Ela comunicava com alegria que vai morar em Brasília.
Imaginei: “E essa foi só a notícia de Dezembro. Se esse foi um ano do Tigre para ela também, imagine só os acontecimentos que culminaram para essa mudança de cidade.”

O que será de mim até o meu próximo ano do tigre?
Tenho doze anos para responder.
Até lá.