segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Melhor que chupar balões

Quando eu era adolescente imaginava que aos 23 eu seria adulta, cineasta, e estaria morando no Rio de Janeiro.

No último dia 08, lá estava eu: fazendo 23.
A idade de Leonardo DiCaprio em Titanic. E eu achava ele tão velho, tão lindo, no auge...

Na aula de THAUP (Teoria e História) ninguém cantou parabéns. Não faz mal. Depois daquilo só precisaria matar o tempo até dar a hora de ir pro Inglês fazer a prova.
A professora me chama numa sala, diz que eu estou atrasada em Desenho Técnico. Disse na frente dos calouros. Eu fiquei com raiva, falei que era meu aniversário. Saí da sala chateada, Monic barrava a minha passagem, fiquei presa entre ela e a professora. Que saco, eu ainda tinha a prova de Inglês...
Me puxaram pelo braço, me arrastaram para outra sala, eu não queria ir, mas eu não sabia o que tava acontecendo e aí...



E aos 23 descobri que prancheta e camisinha têm outras utilidades.

Obrigada, meu povo!

Bonus Track
Eu conversando com Samuel:
- Deveria ter uns "balões" de uva e menta para...
- Pra quê? Você ia chupar os balões?? - disse a professora se metendo na conversa alheia
- Não, professora, eu ia dizer que era pra ficar colorido.
- Ah, tá... menos mal.

Ai... nem os professores estão isentos de falar bobagem em festa.

Mas só para não esquecer, aí vai um poeminha quase-cômido que fiz no meu aniversário de 18, em 2004.

Parabéns

Alguém comemora hoje
É o meu aniversário
Uma festa até alegre...
Muito pelo contrário

Nunca vi tanta alegria
Todos num lugar só
E quem vem falar comigo
É minha querida vovó

É a hora tão chegada
Quando todos vão cantar
Se eu não me sinto bem
Eu posso ao menos chorar? 

Preciso fechar os olhos
E qualquer coisa pedir
Sei que daqui a um ano
Essa tortura vai repetir 


Abro os olhos, pego o bolo
Taco na cara da vovó
Esta bate na parede
E cai no chão sem dó


Mamãe espantada pergunta:
"O que fizeste com a vozinha?"
E eu paciente respondo:
"Não era para apagar a velhinha?"


  Cora Rufino

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gracias a Mercedes

Que indelicadeza a minha...
Enquanto eu postava, Mercedes Sosa morria.

Primeiro no vinil de mamãe com o clássico "volver a los 17".
Depois na aula de espanhol do ensino médio com "duerme negrito", que usei como trilha sonora do meu curta esse ano.

Mas foi com "gracias a la vida" que Mercedes me pegou de jeito.
Não lembro de ter ficado comovida assim com a morte de nenhum outro cantor.
A única homenagem póstuma que me ocorre fazer agora, é traduzir a letra da música que ela cantava.


Graças à Vida


Graças à vida que me deu tanto

Me deu dois olhos que quando os abro

Distingo perfeitamente o preto do branco

E no alto céu, o seu fundo estrelado

E nas multidões, o homem que eu amo


Graças à vida que me deu tanto

Me deu o ouvido que em toda a sua largura

Grava noite e dia grilos e canários

Martelos, turbinas, latidos, aguaceiros

E a voz tão terna de meu bem amado


Graças à vida que me deu tanto

Me deu o som e o abecedário

Com ele, as palavras que penso e declaro

Mãe, amigo, irmão

E luz iluminando a rota da alma do que estou amando


Graças à vida que me deu tanto

Me deu a marcha de meus pés cansados

Com eles andei cidades e pântanos

Praias e desertos, montanhas e planícies

E a casa tua, tua rua e teu pátio


Graças à vida que me deu tanto

Me deu o coração que agita seu marco

Quando vejo o fruto do cérebro humano

Quando vejo o bom tão longe do mau

Quando vejo o fundo de seus olhos claros


Graças à vida que me deu tanto

Me deu o riso e me deu o pranto

Assim eu distingo alegria de tristeza

Os dois materiais que formam meu canto

E o canto de vocês que é o mesmo canto

E o canto de todos que é meu próprio canto

domingo, 4 de outubro de 2009

Brincando de fumar caneta

Acordei com um friozinho incomum. Me cobri o melhor que pude, e achava estranho não ter o habitual Sol na minha cara, obrigando a me mexer na cama.
Percebi na janela um branco opaco. Passei a mão no vidro e o embaçado se desfez mostrando uma Boa Vista esbranquiçada do lado de fora!
- É neve! - gritei
Eu não podia acreditar. Finalmente os efeitos do Aquecimento Global e outras questões ambientais estavam trazendo algo de bom à cidade!
Eu sabia que aquele frio não era normal!
Pulei da cama e, busquei no guarda-roupa todas aquelas roupas de frio com cheiro de mofo. Encontrei umas luvas, que mamãe tinha comprado no Paraguai, e terminei de me agasalhar.

Lá fora, na rua, os vizinhos estavam olhando pra cima, abismados com o fenômeno. As crianças, como se fosse comum, atiravam bolas de neve umas nas outras, faziam castelinho(?) como se estivessem na praia!
Para mim estava ótimo!
Fui caminhando até a Orla, ver se estava assim por lá. Levei meu caderninho para anotar possíveis acontecimentos insólitos. As poças d'água estavam congeladas ao longo do caminho mas, na Orla, o rio continuava correndo normalmente.

Uma brisa fortíssima passou por mim, percebi que o frio também poderia ser incômodo.
Saía fumacinha da minha boca quando eu respirava, por isso eu brincava de fumar minha caneta.

Mas não!
Não nevava lá fora!
Não fazia frio em Boa Vista.
Acordei com a cara queimada pelo Sol!
Só faltei ficar pelada na cama, suando que nem uma porca!

Era mais um dia de verão em Boa Vista.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O lado bom da eremitagem.

Até que tive uma infância meio solitária.
Não achei ruim não, pelo contrário.
Fui filha única boa parte da vida (até os 18 anos). Sempre morei com minha mãe, que sempre trabalhou fora. Nunca morei com meu pai, e nunca entendi direito no que ele trabalhava, só sei que a gente tinha o costume de gastar muito dinheiro na banca com gibis.

Sempre fui e voltei da escola sozinha. Na primeira série, aos sete anos, esqueceram de me buscar na escola, daí eu voltei para casa a pé. Foi quando descobriram o que eu era capaz de fazer e nunca mais foram me buscar na escola.
Então, quando voltava de lá, tinha a casa inteira para mim.
Para mim e minha imaginação.
Fui criada pela TV, pelos quadrinhos, pelas minhas historinhas (que eu escrevia ou desenhava), enfim, pelas minhas idéias.


Mas não foi bem assim que eu comeccei a desenhar, por exemplo.
Eu aprendi a desenhar nas beiradas das folhas dos cadernos, durante as aulas. Mais especificamente na aula de história da professora Gerusa, na 5ª série. E ela achava lindo no começo.
O problema é que eu nunca prestei atenção às aulas dela. E o os desenhinhos que eram feitos nas bordinhas do caderno, tomaram lugar na página inteira, onde era para eu estar copiando as tarefas.
Fui mandada à diretoria pela mesma mulher que outrora havia elogiado meus traços (finalmente consegui usar a palavra outrora).

Lá na diretoria encontrei outros delinqüentes como eu. Estavam lá por vários motivos, como brigar em sala ou falar palavrão. A inspetora Lúcia disse que quando viu o meu caderno ficou pasma (foi a primeira vez que ouvi aquela palavra e ela ficou na minha cabeça até a hora de eu chegar em casa e procurá-la no dicionário).

Tia Gerusa disse na sala, depois, que se eu continuasse daquele jeito seria uma vagal. Fiquei surpresa mas não achei nada demais. Porém Cícero, o repetente, me defendeu na frente de todo mundo.
Eu sempre fui amiga dos repetentes, dos galerosos e dos baderneiros. Naquele dia vi que andar com más companhias tinha lá suas vantagens.

Isso tudo aconteceu quando eu tinha 11 anos. E foi aos 13 que eu decidi parar de desenhar, pois isso me trazia mais apuros do que felicidade.


Estatística: Aproximadamente 95% dos meus desenhos foram feitos em folhas de caderno. Simplesmente não presto atenção às aulas até hoje.
Viu, tia Gerusa? Não era nada pessoal