sábado, 2 de abril de 2011

trânsito vital

Eu tinha me perdido. Era o terceiro dia de aula, na nova cidade, e eu me perdi.
No fundo acho que foi de propósito, pois eu sabia como chegar mais rápido à sala, mas quis tentar um caminho diferente.
Eu e minha mania desses caminhos diferentes.
Então me perdi. Fui parar num bairro que eu não conhecia. Olhei o lugar, as pessoas e várias coisas enquanto o ônibus fazia a volta e ia para o Centro.
Pelo menos o centro é mais familiar.
Que cidade é essa que eu nunca vi? O que foi que eu fiz da minha vida? E outras questões clichês.
E aí comecei a chorar. No ônibus, em público. Odeio chorar.
Sério.
Eu bebo pouca água diariamente e chorar me deixa com sede.

Uma vez eu estava dirigindo na Av. Major Williams, em Roraima, e no semáforo, sob o sol de meio dia, ouvi uns soluços.
Olhei para o lado e tinha uma mulher num carro caro, chorando.
Ela apoiava a cabeça num dos braços, que estava levantado, apoiado no encosto de cabeça do banco. Ela tinha óculos escuros. Ela tinha o rosto molhado.
Abri meu porta-luvas e tirei de lá um boneco de pelúcia que costumava ficar pendurado no retrovisor. Pensei em jogar pela janela dela. Ela iria se surpreender, olhar o objeto, olhar quem jogou e aí eu olharia para ela e faria o sinal de positivo. Diria "A vida segue. Isso vai passar, blablablá"
Às vezes me dá vontade de fazer intervenção urbana.
O que provavelmente aconteceria era ela se assustar com o objeto voando janela adentro. Isso pioraria seu humor, seu estado de espírito e o que quer que tivesse acontecido à ela, se agravaria com o susto daquele humanóide de pelúcia olhando e sorrindo, como se a vida fosse bela.

O sinal abriu.

Eu tinha me esquecido de engatar a primeira. Precisei largar às pressas o bonequinho num canto qualquer para poder sair do lugar.
Senão iriam começar a buzinar gritando em fúria que a vida segue.

3 comentários:

Alice disse...

A vida segue porque tem que seguir! Lindo!!!

Anônimo disse...

Digo mais: LINDO!

Kalyua disse...

Nossa! Como me identifiquei nesse texto! Todo esse turbilhão de emoções eu tive enquanto morava em manaus... Entendo disso :P