terça-feira, 5 de junho de 2012

Momento "mamãe, faço teatro" e o 13º Cenas Curtas

Nesse último domingo, Alice e eu participamos do Festival de Cenas Curtas, em Belo Horizonte, com a cena "O Último Doce"
Um momento bem significativo que partiu de um desejo de Alice de contar a sua história que hoje se mescla com a minha.



Um processo cheio de insights, inspirações ou desencantos - como todo processo criativo - que está resultando numa cena sensível e autobiográfica de nós duas.
Aqui embaixo anexo a crítica feita por Luciana Romagnoli sobre a cenas apresentada no domingo:

"A [cena] mineira O Último Doce, vai confiar completamente na tensão entre a fala metaforizada de uma atriz e as imagens por ela suscitadas, que aos poucos ganham contornos nos desenhos feitos por outra no chão do palco. Com uma solução cênica extremamente simples, a dupla consegue dar materialidade a um tema metafísico, criando um espaço onírico que se remodela de acordo com os sentidos evocados na fala, e os potencializa. Os desenhos se tornam dramaturgicamente tão importantes quanto as palavras.

O texto escrito por Alice Vieira e Cora Rufino trata da experiência de se tornar adulto por uma dupla reconfiguração de mundo: a percepção de que, em relação à infância, o tempo diminui e o espaço aumenta. Ou seja: se, por um lado, já não há todo o tempo do mundo para a vida, por outro, o horizonte se amplia de modo que já não se pode determinar facilmente seus limites geográficos, e aquele território que antes circunscrevia toda a existência acaba por tornar-se pequeno demais para ela. “Como é que se mata o espaço?”, questiona-se Alice, em uma das centelhas que seu texto provoca.

É a nostalgia de um mundo ainda apreensível e imaculado – “Saudade de um tempo em que ninguém da minha família tinha morrido ainda”, diz também Alice, segurando um relógio-despertador, raro objeto de que a cena se serve. Além dele, apenas um peixe de madeira, a esponja e o líquido transparente com o qual Cora desenha o que se poderia chamar de cenário. A escolha do líquido é crucial: as marcas transparentes deixadas como traço/rastro remetem ao invisível e gradativamente se evaporam, efêmeras, como o tema de que se trata em cena.

A dinâmica entre falas e desenhos ressalta visualmente como o espaço vai se transformando com o passar do tempo e da experiência – e a cumplicidade entre o que é dito e o que se vê guarda momentos de humor também. As duas atrizes funcionam em codependência, como se uma representasse o tempo, e a outra, o espaço. O teatro que fazem é um jogo afetivo ao qual o público adere para ressignificar o mundo."


Um comentário:

Isabella Coutinho disse...

muito legal Cora!!