quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Pesadelos

Acordei com as batidas na porta.
A família toda gritava de fora do quarto, pedindo que abríssemos. Batiam sem parar. Chutaram a porta. Era urgente.

Abrimos.

Nos deparamos com as pessoas estarrecidas, a mãe chorava. O que teria acontecido?


Eu tinha gritado, segundo consta, em sonho.
Depois me veio uma vaga lembrança: alguém em cima de mim. Me sufocava, creio, mas eu não me rendia. Lutava. Batia, socava e claro, gritava para alarmar.
Deu certo, mas de uma maneira estranha. Quando o socorro veio, tudo se dissipou em segundos. Não me restou nada além desse vulto pesado sobre mim. Abrimos a porta e todos preocupados perguntando o que tinha havido.
Houve que eu fui salva.

Já no mundo real, era quatro da manhã. Ninguém mais conseguiu dormir. Me aplicaram um Johrei, falaram sobre espiritualidade e energias ruins. Sobre ter visto algum filme de terror.
Sou ateísta, mas a situação era tão assustadora que nem me ofendi (tanto) quando se falou do sobrenatural.

Só que eu dormia acompanhada, a família não era a minha... e eu olhei para ele que também me olhava, sem entender e ao mesmo tempo estávamos desconfiados do que éramos ou do que fazíamos.
Ninguém lembra do que aconteceu. Eu disse que daria tudo para ver uma gravação daquela hora.
O que mais me assustou disso tudo, é a lembrança da mãe chorando, depois que abri a porta. O espanto das pessoas, o olhar deles. Ela chorava, eu me desculpava, sem saber direito por quê.

É algo tão além da minha compreensão, principalmente por ser inédito para mim.
Quando se fala em pesadelo tem apenas três lembranças:

Uma vez sonhei que corria de um morcego. Era dia, no quintal do meu pai. O ponto de vista, no sonho, era o do morcego. Eu via, através dos olhos dele, a aproximação. Ele pousou no meu ombro e eu acordei, com o pé da minha mãe onde estaria o morcego. Eu dormia com ela naquela noite e a realidade se misturou com o pesadelo: o pé real virou o morcego do sonho. Meu tato ajudou a colorir as sensações. Única experiência do tipo que tive até hoje;

Outra vez, sonhei com um dilema. Eu estava em um barranco, puxava a minha mãe para fora da água, para que não se afogasse. Porém, na minha outra mão, eu empurrava meu filho, um bebê, para cima do barranco, para deixá-lo a salvo, longe da água. Eu tava no meio. Com uma mão puxava minha mãe e com a outra empurrava meu filho. Mas eu escorregava, não conseguia empurrar meu filho e tão pouco puxar minha mãe. Tive que escolher quem eu deveria salvar, mas não conseguia decidir. O tempo ia acabando, eu ia escorregando e então acordei. Aos prantos. Primeira e única vez que acordei continuando uma ação iniciada em sonho;

A terceira e última lembraça de pesadelo, não chega a ser minha. É da época em que eu dormia com minha mãe. Às vezes ela gemia e gritava. Nada tão escandaloso como deve ter sido comigo essa noite, mas o sificiente para me incomodar. Não lembro se eu acordava ou se já estava acordada quando ela iniciava com os gemidos, mas eu sempre a acordava e ela me dizia com o que estava sonhando. Às vezes era alguém que a assaltava, ou alguém me matando.

Alguém me matando...

O que diabos aconteceu nessa noite em que eu acordei aos berros?
Ouviram socos na parede e na cama.
Analismos nossos corpos, nenhuma marca ou hematoma...
Então o quê..?

Minha garganta estava irritada por causa dos gritos. E o ponto positivo é que eu estava acordada de manhã cedinho e pude apreciar um café regional: tapioca com castanhas e pupunha cozida.

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